Por bferreira

Rio - A taxa de desemprego registrada em fevereiro superou a alta de janeiro e apontou, pela primeira vez desde 2011, para uma queda na renda da população brasileira. Os dados são da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo IBGE. Com isso, o receio é que o cenário de retração econômica seja agravado, levando a uma situação cíclica de desemprego e recessão.

Com o desemprego em alta%2C Ana Carolina Torres vai buscar novas formas de fazer seu dinheiro render João Laet / Agência O Dia

Em dezembro de 2014, a taxa de desocupação havia chegado no nível mais baixo daquele ano, a 4,3%. No entanto, o desemprego subiu em janeiro, chegando a 5,3%, e cresceu ainda mais em fevereiro, atingindo 5,9%. Segundo o IBGE, a população desocupada (1,4 milhão de pessoas) cresceu 10,2% (mais 131 mil pessoas) em relação a janeiro e 14,1% (mais 176 mil pessoas) comparada a fevereiro de 2014.

A pesquisa é feita em seis regiões metropolitanas do país. Quatro delas tiveram aumento significativo na taxa de desocupação de janeiro para fevereiro: Salvador (de 9,6% para 10,8%), Belo Horizonte (4,1% para 4,9%), Rio (3,6% para 4,2%) e Porto Alegre (3,8% para 4,7%). As outras duas tiveram variações insignificantes do ponto de vista estatístico: São Paulo (de 5,7% para 6,1%) e Recife (de 6,7% para 7%).

Os dados também indicam uma diminuição da renda da população. O rendimento médio real habitual dos ocupados (R$ 2.163,20) caiu 1,4% em relação a janeiro (R$ 2.194,22) e recuou 0,5% comparado a fevereiro de 2014 (R$ 2.174,35).

Professor de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Nassif acredita que a situação pode piorar ao longo do ano. “O que salta aos olhos não é o nível da taxa de desemprego em si, mas a velocidade com que está crescendo. Há uma conjugação de fatores este ano que sinaliza uma tempestade perfeita, com a deterioração do ambiente econômico”, avalia o especialista.

Entre os grupamentos de atividade, a população ocupada caiu em dois setores na comparação com fevereiro de 2014: indústria (-7,1%) e construção (-5,9%). A primeira perdeu 259 mil postos de trabalho em um ano, sendo a maior parte no setor automobilístico (47 mil) e na indústria de alimentos e bebidas (46 mil). Já a construção demitiu 105 mil trabalhadores no período.

Apenas em serviços domésticos houve alta significativa (7,1%). O comércio criou 65 mil vagas no período (1,5%). Já os serviços prestados a empresas contrataram 51 mil pessoas (1,4%).

Momento é de poupar e evitar dívidas

Segundo Patrícia Pereira, gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos, com o desemprego em crescimento, as pessoas devem evitar novas dívidas e fazer uma reserva financeira.

“O mantra básico é não gastar mais do que ganha. Se puder adiar uma compra de carro ou imóvel, é melhor”, aconselha.

Com relação às aplicações, é preciso avaliar o perfil do investidor e o tempo que poderia ficar com esse valor imobilizado. “Tem vários investimentos além da poupança em que a pessoa tem acesso mais rápido, como Tesouro e CDB”, diz.

A consultora de TI Ana Carolina Torres, 25 anos, já começou a repensar as despesas. “Nunca me preocupei em ter uma poupança, mas com o desemprego em alta vou me informar sobre formas de fazer o meu dinheiro render”, conta.

Indústria e construção foram os que mais demitiram

De acordo com o economista André Nassif, é preocupante o fato de os segmentos da indústria e da construção terem as maiores quedas na população ocupada. “Nesses setores, o poder de gerar empregos indiretos é maior”, explica.

No caso da indústria, o encarecimento do crédito prejudicou o setor automobilístico e de outros bens duráveis, como eletrodomésticos. “Sem crédito não tem demanda. Outro fator é a incerteza com o mercado de trabalho, que impede as pessoas de assumirem novas dívidas”, avalia Nassif.

Já na construção, o problema está relacionado à falta de investimentos do governo com obras de infraestrutura, após a decisão da nova equipe econômica de cortar gastos.

Na comparação com janeiro deste ano, houve queda no segmento de outros serviços (-3,7%), como manicures e cabeleireiros, alimentação e transportes terrestres.

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