Por bferreira

Áustria - A Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), cartel que controla a maior parte da comercialização do óleo combustível no mundo, anunciou ontem que vai manter a produção no mesmo patamar atual, de 30 milhões de barris por dia. Delegados dos 12 países pertencentes à organização se reuniram em Viena, na Áustria, e decidiram não mexer no estoque, mesmo com o excesso de oferta da matéria prima no mercado. Ontem, o tipo Brent (unidade de medida para se comercializar o óleo cru no mercado internacional) fechou cotado a US$ 63,15.

Discussão sobre o nível de produção de petróleo afeta a economia de vários países, como o BrasilEFE

No passado, a Opep reduzia a produção de barris para sustentar os altos preços da commodity. As decisões da organização surtem efeitos no mercado internacional, já que os 12 países membros possuem cerca de 80% das reservas de petróleo existentes no mundo e são responsáveis por cerca de um terço da exportação mundial.

Entretanto, há seis meses, a organização mudou sua estratégia e deixou a produção inalterada, levando à uma queda vertiginosa no preço do produto. A medida do grupo surpreendeu os produtores. “Essa decisão da Opep está muito baseada na Arábia Saudita, que é contra qualquer contingenciamento da produção para influenciar preços”, afirma a professora Maria Beatriz David, professora de Economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

EFEITOS NO RIO

A queda de preços do petróleo no ano passado solapou a economia de várias cidades fluminenses dependentes dos royalties do petróleo. Isso porque o valor do barril é um dos componentes do cálculo da compensação recebida. Entretanto, Maria Beatriz não vê o risco de nova queda que seja persistente. “O preço está bastante baixo. Podem até cair, mas não muito significativamente”, diz ela, que critica a gestão que os municípios fizeram dos recursos provenientes do petróleo.

“Os municípios daqui trabalharam errado. Não era para eles usarem o dinheiro para consumo e custeio, e sim para fazer investimentos que cobrissem essa oscilação”, avalia a professora.

O baixo valor da matéria prima também deve afetar a venda de campos de petróleo e gás que o governo pretende fazer em outubro. Nesta semana, a diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard, afirmou que pode ser necessário fazer alterações nas regras da licitação para tornar os campos mais atraentes. Segundo a diretora, as empresas estão mais conservadoras ao investir.

Guerra contra xisto dos EUA

Com a decisão de manter seu volume em alta, a Opep continua a desafiar a produção de petróleo a partir do xisto nos Estados Unidos. Nos últimos anos, este tipo de perfuração ganhou espaço e os norte-americanos aumentaram sua exportação, contribuindo para a queda nos preços.

A estratégia da Arábia Saudita, país com maior influência na Opep, é deixar os preços da commodity baixos para inviabilizar a produção nos Estados Unidos. Mas essa decisão afeta outros países dentro da própria organização, como Venezuela e Rússia, fortemente dependentes das vendas do óleo no mercado internacional.

Estado tem recuperação em maio

Os royalties pagos aos estados produtores de petróleo tiveram recuperação no mês de maio. No Rio, o valor arrecadado subiu 19,6% em relação a abril, passando de R$ 166 milhões para R$ 199 milhões.

O aumento foi impulsionado pela alta do preço do barril, avaliado em cerca de U$ 65, e pela valorização do dólar, que também influencia nos valores devidos aos produtores. A moeda americana beirou os R$ 3,20, chegando a ultrapassar este patamar algumas vezes.

Apesar do fôlego, a receita do Estado do Rio com petróleo entre janeiro e maio é 20% menor que o valor arrecadado no mesmo período de 2014.

O Espírito Santo, outro importante estado produtor, tem tido perdas ainda maiores que as do Rio. Neste ano, o estado arrecadou 37% a menos que 2014, considerando o período de janeiro a maio. No mês passado, o estado viu um pequeno avanço na receita. A arrecadação foi de R$ 47 milhões, ante R$ 45 milhões em maio de 2014.

Outros estados produtores (São Paulo, Rio Grande do Norte, Bahia e Amazonas) também tiveram queda nas receitas entre 2014 e este ano.

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