Por felipe.martins

Rio - Quando o fim da licença maternidade se aproxima, é hora de definir com quem deixar o novo membro da família, e voltar ao trabalho sabendo que seu filho está em boas mãos tem preço, e alto. Na Zona Sul do Rio, o valor das mensalidades de boas creches fica em torno de R$ 2.500 quando o atendimento é integral, ou seja, durante todo o horário comercial. Para escapar deste gasto e não perder em qualidade cada vez mais famílias do Rio apostam na modalidade de creche parental, na qual a as ‘donas’ são as própria mamães trabalhadoras. E o melhor: o custo cai em até 50%.

O modelo depende de bom relacionamento entre as mamães. Elas se reúnem de segunda a sexta feira e de acordo com uma escala pré-definida, cuidam do próprio filho e dos filhos das outras mães. No revezamento, são definidos horários e locais de acordo com a disponibilidade de cada uma.

Cibele é designer de joias e consegue conciliar trabalho e maternidade. Ela%2C o filho Dante%2C Tatiana e Louis curtem a manhã no Parque GuinleDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Para Vera Vasconcellos, psicóloga e professora do Departamento de Estudos da Infância da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o modelo é interessante. Ela lembra que esta não é uma proposta nova. “É uma alternativa que volta à tona por conta de um desconforto econômico da classe média”, comenta a professora, que também adotou o modelo ao ter seu primeiro filho.

No eixo Flamengo-Laranjeiras-Botafogo, moram Cibele Ruas, 33, mãe do Dante; Vanessa Simões Granli, 34, mãe da Milla; Samanda Milla, 33, mãe do Louis; Astrid Kusser, 40, mãe da Janaína. Em companhia da cuidadora fixa Tatiana Silva, 33, elas formam uma turma que há mais de cinco meses vem se adaptando e ambientando os filhos à nova rotina. Elas afirmam que o fato de não terem família no Rio contribuiu para a formação da creche. Samanda é francesa, Vanessa de São Paulo, Cibele tem família em Minas Gerais, Astrid é alemã e Tatiana, cuja família mora em São Gonçalo, longe de onde ela e seu filho Acauã, 3, residem atualmente.

Vanessa recorreu a outras alternativas antes de adotar a creche parental como modelo de cuidados com a sua bebê. “Cheguei a deixar a Milla em uma creche particular quando completou seis meses. Foi um pouco traumatizante para ela. Achei o tempo de adaptação acelerado, não respeitou o tempo da minha filha. Duas ou até três semanas é a média de tempo que as creches dão para a adaptação. Nosso grupo existe há mais ou menos cinco meses e só agora a Milla se sente totalmente à vontade com as outras mães e crianças”, comenta Vanessa, que no início dos encontros estranhou bastante dividir sua atenção de mãe com outros bebês.

Samanda diz que na França a creche parental é um prática bastante comum e quando voltou para morar no Brasil com o filho Louis sentiu necessidades de adotar o modelo por aqui. “Encontrei outras mães com a mesma vontade e decidimos nos organizar”, explica a francesa, que está grávida de três meses do segundo bebê e recebe todo um cuidado especial das outras mães, com quem compartilha metade do seu dia. “Não encaramos como uma creche apenas, entre nós existe uma relação familiar”, acrescenta Cibele, mãe do Dante.

Para Edgar Flexa Ribeiro, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro (Sinepe-Rio) a creche parental não afeta a estrutura do modelo atual de creche. “As necessidades sociais são preenchidas de formas diferentes e por mais que se esforce em substituir um modelo existente, essa mudança seria gradual e a longo prazo”, argumenta.

Quanto vale optar pelo tradicional

Pesquisadas algumas creches da Zona Sul do Rio e agências de recrutamento de babás da mesma região, a reportagem de O DIA verificou que o custo da assistência para crianças na faixa de zero a três anos (a mesma idade de bebês da creche parental) pode variar bastante, pois fatores como atividades extras e refeições, no caso das creches, e pernoite, no caso das babás, podem fazer toda a diferença no preço final.

Nas creches, as mensalidades para o período integral (12h) variam de R$ 1.546 a R$2.655, com refeições, atividades extracurriculares e banho inclusos. O período parcial, que pode variar entre 4h, 6h, 8h e até 10h custa de R$1.041, à R$ 1.740. Já para a contratação de babás, os salários variam de acordo com a qualificação da profissional e quanto às exigências do contratante final, os pais. A babá que faz pernoite, por exemplo, tem remuneração mínima de R$1.800, e as babás que cumprem 8h diárias, de segunda a sexta, têm vencimento estimado entre R$1.300, e R$1.800, conforme qualificações.

Creches na história do Rio

De acordo com Vera Vasconcellos, psicóloga e professora de Letras do departamento de estudos da infância da Uerj, o modelo de cuidado coletivo familiar existe há muito tempo em comunidades cariocas, onde mulheres mais velhas, donas de casa, cuidavam dos filhos de jovens pais que precisavam sair para trabalhar. “É muito comum até hoje”, diz. O esgotamento desse modelo, segundo Vera, fez com que, durante o governo de Roberto Saturnino Braga, fossem criadas as primeiras creches públicas no Rio.

A docente lembra que a creche parental deu origem a escolas como a Oga Mitá, na Tijuca. Vera conta que na época do golpe militar no Brasil, na década de 60, pais que tinham compromissos políticos deixavam seus filhos junto a outras crianças na mesma situação, aos cuidados de famílias que tinham essa visão de cuidado coletivo. “Assim nasceu a Oga Mitá”.



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