Por felipe.martins

Rio - Na contramão da crise econômica que abala a indústria automobilística, o mercado de carros seminovos rouba a cena e registra crescimento de 33,1% nas vendas de janeiro a maio, frente ao mesmo período de 2014. Segundo dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), a expansão é mais forte do que na comparação janeiro-maio do ano passado frente a janeiro-maio de 2013, quando o segmento de veículos com até três anos de uso crescera 14,3%.

O fim do IPI reduzido%2C além da inclusão obrigatória de itens de segurança%2C como airbag%2C nos carros de fábrica encareceram os modelos zeroAlexandre Vieira / Agência O Dia

O preço, atrelado à redução do poder de compra das famílias, está por trás do resultado surpreendente do setor. Em média, carros seminovos custam 25% menos do que os zero-quilômetro. Economista do Bradesco, Regina Helena Couto Silva ressalta que o fim do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para os novos, além da inclusão obrigatória de itens de segurança dos carros que saem de fábrica, como freio ABS e airbag, encareceram muito os modelos zero.

“Nos últimos três anos, a frota de carros novos cresceu bastante. Além disso, as locadoras, que também dominaram o mercado, costumam renovar suas frotas a cada seis meses. Por isso, há um volume grande de carros usados no mercado, o que deixa a compra vantajosa. Soma-se a isso o fato de muitas marcas contarem com garantias de fábrica de três a cinco anos”, afirma.

EXPANSÃO DE SEMINOVOS

No acumulado de janeiro a maio, foram vendidos 5,277 milhões de carros usados no país. Em igual período de 2014, foram 5,160 milhões veículos vendidos — crescimento de 2,3%. Entre os seminovos, com expansão de 33,1%, as vendas alcançaram 1,492 milhão de veículos. No mesmo período de 2014, foram 1,120 milhão.

Clique sobre a imagem para a completa visualizaçãoArte O Dia

Em contraposição, o mercado de veículos novos segue em retração. De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), de janeiro a maio deste ano, frente ao mesmo período do ano passado, as vendas dos segmentos autos e comerciais leves caíram 19,37%. Enquanto em 2014 haviam sido comercializados 1,331 milhão de carros desta categoria, este ano as vendas somaram 1,065 milhão.

O presidente da Fenauto, Ilídio dos Santos, explica que o comprador de carro zero está migrando para seminovo devido ao orçamento apertado e também pelas condições de pagamento. “O momento da economia e as incertezas fazem com que o consumidor seja mais cauteloso”, avalia Santos.

Com juros mais altos, pagamento à vista é opção

Segundo o presidente da Fenauto, Ilídio dos Santos, até 2008, 70% dos carros usados eram vendidos por financiamento. Hoje, o percentual é de 25% a 30%. “Não que não haja crédito disponível. O setor está mais responsável e seguro. A maioria dos compradores prefere dar o carro de entrada e pagar o restante à vista”.

Coordenador de Estudos Econômicos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira ressalta que, desde 2013, o Banco Central vem elevando a Selic — hoje está em 13,75% ao ano. Mas com o aumento do risco de inadimplência, os juros nos bancos têm subido acima da taxa básica.

“Os bancos estão mais seletivos na concessão de crédito. Logo, quem busca comprar um automóvel encontra uma condição bem pior”, afirma.


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