Brasília - O Banco Central endureceu nesta quinta-feira o discurso ao informar que há a necessidade de “determinação e perseverança” no combate à inflação, levando parte dos especialistas a acreditar que o atual ciclo de aperto monetário pode ser mais intenso, com nova elevação dos juros. Na ata da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), o BC reafirmou que os ajustes de preços relativos na economia fazem com que a inflação se eleve no curto prazo e tenda a permanecer elevada em 2015. E acrescentou ser preciso “determinação e perseverança para impedir sua transmissão para prazos mais longos”, frase que não havia mencionado na ata anterior.
Com isso, cresceram as apostas de que, em julho, quando o Copom se reúne novamente, a Selic será elevada novamente em 0,5 ponto percentual, e não em 0,25 ponto como esperava boa parte do mercado diante da atividade econômica debilitada. Na semana passada, o BC elevou a taxa básica de juros em 0,5 ponto, a 13,75% ao ano, mesmo patamar de dezembro de 2008, auge da crise internacional.

“Acho que o BC quer indicar um pouco mais de alta na Selic do que inicialmente se espera e que pode levar mais tempo para reduzir a taxa de juros”, afirmou a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, para quem a expectativa de ajuste na Selic de mais 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom ganhou mais força.
No mercado de juros futuros, a ata do Copom levava a apostas quase totais de elevação de 0,50 ponto da Selic no mês que vem e dividiu as visões de mais uma alta de 0,50 ponto em setembro com uma de 0,25 ponto percentual que, até a véspera, era majoritária. O documento levou em consideração dados anteriores à divulgação do IPCA de maio, na véspera, que surpreendeu e acelerou a alta a 0,74% (8,47% em 12 meses). Um dos principais vilões da escalada da inflação são os preços administrados, com a conta de luz, cuja projeção de alta para 2015 foi piorada pelo BC a 12,7%, sobre 11,8%. Só energia elétrica subirá 41% no período.
Para Dilma, ‘inflação preocupa bastante’
A presidenta Dilma Rousseff também endureceu o discurso ao afirmar que a inflação de 2015 “preocupa bastante” e o governo está tomando todas as medidas para estabilizar a situação, uma vez que o país não pode conviver com uma taxa alta.
“A inflação é um objetivo que nós temos de derrubar e derrubar logo. O Brasil não pode conviver com uma taxa alta de inflação, não pode e não vai”, disse Dilma após retiro dos chefes de Estado e de governo da 2ª Cúpula da União Europeia em Bruxelas, capital da Bélgica.
“A inflação neste ano é uma inflação atípica. O Brasil está tomando todas as medidas para se fortalecer macroeconomicamente para construir uma situação estável”, acrescentou a presidenta, um dia depois de ter sido divulgada taxa de inflação mais alta em 11 anos. Dilma afirmou, porém, que o brasileiro deve continuar consumindo.
Uso do cartão é ‘excessivo’
O Banco Central emitiu ontem alerta sobre o que chamou de “uso excessivo de cartão de crédito pelos brasileiros”. Segundo a autoridade monetária, o hábito tem impactando o preço de produtos, pressionando a inflação. A preocupação foi revelada no relatório anual sobre crédito divulgado ontem. Segundo o banco, há “sobreutilização” dos cartões de crédito no Brasil, incentivada, principalmente, pelos benefícios ofertados, tais como milhas de viagens aéreas.
Segundo o relatório, as transações não presenciais já representam 17% do total do faturamento com cartões de crédito. Em 2014, a soma do valor das transações com cartões de débito e de crédito (considerando-se compras em parcela única) somaram 14% dos saques efetuados nas instituições financeiras.