Por bianca.lobianco

Rio - Enquanto os foliões estão se guardando para o quando o Carnaval chegar, os organizadores da folia já se mobilizam para a festa acontecer. A folia, que movimenta cerca de R$ 1,2 bilhão por ano somente no setor de turismo do Rio, será tema da segunda edição da Carnavália. A feira de negócios debutou no ano passado com o objetivo de facilitar a aproximação entre carnavalescos, dirigentes de blocos de rua e fornecedores.

Para este ano, a expectativa dos organizadores é que o encontro movimente R$ 20 milhões, o dobro do ano passado. Potencial não falta. Segundo um estudo produzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a pedido do Ministério da Ciência e Tecnologia, que ainda será divulgado, estima-se que somente as escolas do Grupo Especial gastem, juntas, R$ 85 milhões por ano na produção dos desfiles, entre produção de alegorias, fantasias e custos de gestão.

Especialistas destacam necessidade de especialização dos funcionáriosAndré Luiz Mello / Agência O Dia


Além de fomentar os negócios, o evento joga luz sobre a necessidade de profissionalização do Carnaval. Segundo Luiz Carlos Prestes Filho, especialista em economia da cultura, já passou da hora de o espetáculo ser reconhecido pelo status de “megaevento”, e não apenas como uma festa popular.

“Hoje quando você fala em evento popular, é como se existisse uma desorganização. Mas o Carnaval do Rio tem 90 escolas de samba, incluindo as mirins, e é altamente profissional”, afirma Prestes, que cobra a adoção de políticas públicas voltadas para o período.

Gerente comercial da Casa Pinto, tradicional loja de tecidos no Rio, Ronaldo Darzi concorda com a necessidade de mudanças. Ele afirma que 80% de seu faturamento já foi ligado ao Carnaval. Mas, ao longo dos anos teve que diversificar os negócios para a loja poder se sustentar. Segundo ele, o maior problema é a inadimplência e os calotes. No ano passado, teve que interromper uma entrega para uma escola de Brasília porque o governo cancelou o Carnaval de lá. Outro problema que ele identifica é a gestão ineficiente das escolas de samba.

“O custo do Carnaval cresceu bastante e as subvenções não acompanharam esse crescimento. Isso acabou gerando uma crise”, afirma

Para Marcelo Melo, um dos autores do estudo feito pela UFRJ, a indústria criativa tem que ser vista da mesma forma que a tradicional, com capacitação dos profissionais e desenvolvimento de tecnologia que possa baratear os insumos.

“Diferentemente do que se sugere, o Carnaval tem que ser objeto de uma política industrial, com políticas públicas e atuação da ciência e da tecnologia”, defende.

Blocos do Rio: crescimento da folia nas ruas em todo o país também será debatido durante o eventoFoto%3A Alessandro Buzas / Parceiro / Agência O Dia

Em sua segunda edição, feira conseguiu atrair 70 expositores

Em sua segunda edição, que acontece entre os dias 18 e 20 de junho, a Carnavália atraiu 70 expositores, 25% a mais que no ano passado. “Apesar da crise econômica que está aí no país, conseguimos crescer o número de metros quadrados e certamente vamos ter mais visitantes”, afirma Nei Barbosa, coordenador da Carnavália e também diretor do Bloco do Barbas.

A feira vai abranger negócios em diversas áreas, como material de fantasias, calçados, confecção, produção audiovisual, instrumentos musicais, entre outras. O evento surgiu do esforço de integrar melhor a cadeia produtiva do Carnaval, que ainda é cercada de informalidade.

Segundo Álvaro Luis Caetano, conselheiro da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) e um dos organizadores da feira, o evento faz com que os fornecedores tenham um acesso facilitando aos compradores. Isso estimula a concorrência e reduz os preços.

“Geralmente, o comprador é o presidente ou o carnavalesco da escola. Os fornecedores têm dificuldades de chegar até ele para apresentar suas novidades, principalmente os de fora do rio. É dá uma oportunidade para os comerciantes apresentarem seus produtos”, diz ele, ressaltando que o preço dos desfiles do Grupo Especial são exorbitantes, gravitando entre R$ 9 e R$ 10 milhões.

“O desfile de quem quer despontar, para disputar título, sai por esse preço”, afirma.

Referência quando o assunto é economia do Carnaval, Luiz Carlos Prestes Filho diz que falta um olhar mais apurado do poder público e do setor empresarial para a festa, que mobiliza muito mais pessoas e dinheiro do que outros eventos que recebem tanto destaque e mais recursos, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. “Na Copa, foram investidos R$ 27 bilhões no Brasil e foram atraídos 300 mil turistas para o Rio. O Carnaval trás entre 900 mil e 1,5 milhão de turistas para o estado”, afirma.

Segundo Prestes, a indústria do Carnaval precisa ser tratada com a mesma seriedade que cadeias mais tradicionais da economia fluminense, como a de Petróleo e Gás.

Com aportes mais consistentes, os profissionais do Carnaval poderiam se dedicar integralmente à festa e as escolas teriam mais condições financeiras de se manter. “As escolas não são empresas, são grêmios recreativos sem fins lucrativos. O governo e o meio empresarial têm que investir nessas pessoas, qualificar músicos, profissionais de dança, gestores de barracão, para que elas vivam do Carnaval. É inadmissível que aquela passista do Carnaval volte a ser uma caixa de supermercado na quarta-feira de cinzas”.

Segundo Marcelo Melo, uma das ideias para aumentar a capacitação é implementar os chamados Centros Vocacionais Tecnológicos específicos para essa indústria. “Poderiam ter centros com formação tecnológica aliada a elementos artísticos”.

Paralelamente à feira, acontecerá também o Sambacom — Encontro Nacional do Samba,que reunirá carnavalescos e especialistas para discutir temas diversos relacionados à festa, como os sambas enredos patrocinados e o uso da tecnologia nos desfiles.

Um dos temas abordados será a expansão do Carnaval de rua em diversas cidades do país, como o Rio, Salvador e Belo Horizonte, e de que forma o poder público pode atuar diante do crescimento.


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