Por felipe.martins

Rio - Com o veto da presidenta Dilma Rousseff à desaposentação, ir à Justiça é a alternativa para aposentados que continuam trabalhando com carteira assinada para tentar o recálculo da aposentadoria por tempo de contribuição. A revisão leva em conta recolhimentos feitos após a concessão do benefício. Apesar de o tema estar à espera de decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF), instâncias inferiores do Judiciário têm reconhecido o direito ao novo cálculo. Há situações em que o processo resulta em correção que dobra o valor da aposentadoria. Em outros casos, os ganhos passam de 80%. “O trabalhador se aposenta, precisa continuar no emprego e paga o INSS. É descontado e não recebe nada em troca”, afirma o advogado previdenciário Eurivaldo Bezerra.

Segundo o especialista, um de seus clientes ganhou ação em que a aposentadoria subiu de R$2.033 para R$ 4.159. O segurado se aposentou pela proporcional (ao tempo de serviço) em 1995, e manteve as contribuições, sempre pelo teto.

Em um outro processo, da Associação Brasileira de Apoio aos Aposentados, Pensionistas e Servidores Públicos (ASBP), em Minas, segurado obteve liminar que garantia a revisão incorporando contribuições que fez depois da concessão do benefício. A Justiça determinou que o INSS corrigisse a aposentadoria em 84,86%, de R$ 2.083,43 para R$ 3.851,49. O INSS recorreu da sentença.

Patrícia Reis, do escritório Neves Bezerra Advogados, afirma que a partir do momento que os segurados contribuem eles têm direito de usufruir desse pagamento. “O trabalhador que pede desaposentadoria não contribuiu para custear a Previdência como um todo, mas para que tenha retorno em forma de revisão”, defende.

As ações dependem de decisão final do Supremo. O assunto está na Corte desde 2003. O processo parou no ano passado, devido a pedido de vista da ministra Rosa Weber. Relator do recurso no STF, o ministro Luis Barroso (foto) declarou em outubro de 2014 voto favorável ao caso, que permite ao aposentado renunciar ao benefício e pedir outro mais vantajoso, sem ter que devolver nada do que já recebeu.

Luis Barroso declarou em outubro de 2014 voto favorável ao casoDivulgação

FÓRMULA PARA REVISAR

Barroso apresentou fórmula de cálculo para revisar as aposentadorias. Considera o tempo e o valor da contribuição de todo o período trabalhado, incluindo fases anteriores e posteriores à primeira aposentadoria. A idade e a expectativa de vida (do fator previdenciário), no entanto, serão as do primeiro pedido de concessão, segundo o voto do ministro.

SÃO 70 MIL PROCESSOS

Cerca de 70 mil processos tramitam na Justiça pedindo a desaposentação. A União alegava que se for concedido novo benefício pelo Judiciário, haverá impacto de R$ 70 bilhões nas contas da Previdência. Advogados ouvidos pela coluna, entre eles o a Federação das Associações dos Aposentados e Pensionistas do Rio, João Gilberto, alertam para um detalhe.

BENEFÍCIO MENOR

Em determinadas situações, a desaposentação pode não ser benéfica. “É preciso se certificar, antes de entrar com o processo na Justiça. Quem continuou trabalhando mas passou a receber salário menor e contribui com valor inferior, quando pedir a revisão com as novas contribuições terá redução da aposentadoria”, orienta.

FAÇA SIMULAÇÃO ANTES

O advogado previdenciário Eurivaldo Bezerra também chama a atenção para esse risco. “O ideal é fazer uma simulação para se precaver”, ensina o especialista. Todas as vezes que a desaposentação foi o foco das discussões, o Ministério da Previdência Social se posicionou contrário à sua implementação.

JUSTIFICATIVA DO VETO

No veto, a presidenta Dilma alegou que a proposta contraria os pilares do sistema previdenciário e permitiria cumular aposentadoria com outros benefícios de forma injustificada. Para o governo, contribuições de quem continua trabalhando servem para financiar as aposentadorias pagas aos demais beneficiários e as deles mesmos.

IMPACTO DE R$ 181,8 BI

Outra justificativa da presidenta Dilma Rousseff para vetar a desaposentação foi o cálculo que o governo fez sobre o impacto que a medida provocaria nos cofres da Previdência: R$181,8 bilhões nas próximas duas décadas. Segundo o INSS, 300 mil segurados seriam beneficiados de imediato com a desaposentadoria.


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