Rio - O poeta Manoel de Barros ensinou que “todas as coisas servem para poesia”. O estudante Valmique Bento da Silva Oliveira, de 14 anos, aprendeu bem e usou um poema para falar de ciência. Assim, venceu um concurso da Nasa, a agência espacial americana. E o jovem escritor, morador de Campos dos Goytacazes, vai poder definir o que a nave Cassini, da Nasa, vai pesquisar no espaço.
No concurso “Cientista Por Um Dia”, os estudantes deveriam escrever uma redação sobre Saturno e suas luas. Na Escola Municipal Getulio Vargas, a professora de português de Valmique, Sílvia Neto, inscreveu suas turmas e se surpreendeu com a poesia do aluno do 9º ano, que fala do amor entre a lua Iapetus e o planeta. “Eu relutei e disse: poesia para um trabalho científico?”, comentou Silvia, que se disse “maravilhada” com o resultado alcançado por Valmique. “Em um concurso como esse ninguém ia falar de sentimentos”, afirmou a professora.
Engana-se quem pensa que a matéria favorita do menino é Português, ou que seu sonho seja ser escritor: Valmique ama Matemática e quer ser pastor evangélico. “Não consegui fazer a redação, e acabei pedindo para fazer o poema. Fiz tudo em 50 minutos”, contou o jovem poeta, citando Vinicius de Moraes como inspiração.
“Comecei a estudá-lo no ano passado e ele fala muito de amor”, disse. Valmique já decidiu o que vai perguntar aos astronautas da Nasa, com quem conversará por vídeo. Pensando na história de amor que escreveu, quer saber qual é a distância entre a lua Iapetus e Saturno.
Um livro e uma decepção amorosa
A carreira de poeta de Valmique já deslanchou: segundo Júlio César Paixão, diretor da escola, será lançado neste mês um livro com 34 poemas do estudante. “Será um evento para a comunidade”, disse Júlio, orgulhoso. “É uma vitória que surpreende a todos e prova que a educação pode mudar esse país”, comentou.
Ao contrário de Vinicíus de Moraes, que se inspirou em muitas das mulheres com quem se casou para escrever seus textos, Valmique está solteiro e ainda não encontrou sua musa inspiradora. “Escrevi um poema para uma menina uma vez, e ela nunca mais falou comigo. Mas ainda vou encontrar a minha musa”, afirmou, aos risos. A professora Sílvia sonha alto: quer bolsa e viagem para o poeta. “Aí eu terei cumprido minha missão como educadora”, indicou, confiante.