'Nenhuma tecnologia vai substituir o professor em sala', dizem especialistas
Evento discutiu relação e papel dos games na aprendizagem para docentes e estudantes
Por thiago.antunes
Rio - O uso de jogos em sala de aula já é uma realidade na Educação estadual, municipal e particular de todo o país. Nos últimos anos, os games têm representado um aspecto importante em vários conceitos da aprendizagem. No entanto, quando se faz uma avaliação macro, os especialistas concordam: nenhuma tecnologia é capaz de substituir o professor. O papel dos jogos na aprendizagem e questões como esta foram discutidas no Conecta 2013, realizado pelo Sistema Firjan no dia 21 de novembro, que reuniu 2.200 pessoas, entre professores, alunos e interessados na temática, com palestras, debates e oficinas.
Um dos destaques do evento foi a presença do criador da Atari, Nolan Bushnell, considerado o pai dos videogames. Ele foi bastante aplaudido ao declarar que gostaria de ver "os estudantes viciados em aprender". Em sua palestra, Bushnell contou sobre a experiência de levantar a primeira companhia voltada ao games e suas experiências atuais, voltando os jogos para a educação de crianças e jovens. "Os games serão tendência até 2017 e, em 2023, o aprendizado estará 10 vezes mais rápido", afirmou. Ele também defende a criação de mais escolas em tempo integral, que misturem juntem os estudos e aplicação de exercícios baseada em games.
Nolan também comentou sobre o papel dos professores em sala de aula. "Hoje em dia, eles (professores) são juízes, funcionários e até sargentos com os alunos. A tecnologia pode ajudar os professores a diminuir os múltiplos papéis que exercem e se concentrarem na atividade que melhor exercem: serem mentores para seus alunos", disse. "Nas escolas que aplicam games no dia a dia dos alunos, obtivemos índices de melhora na aprendizadem de 10%", pontuou.
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Após a palestra, o criador da Atari debateu com doutora em Educação Andrea Ramal, Brian Wanieski, diretor do Institute of Play (escola pioneira de Nova Iorque que usa games no aprendizado), a professora Lynn Alves, que estuda o processo de gamificação na Educação, Heloísa Mesquita, gestora dos Ginásios Experimentais Cariocas e a criadora do NAVE (Núcleo Avançado em Educação), Samara Werner, programa voltado para a pesquisa e o desenvolvimento de soluções educacionais usando ferramentas tecnológicas.
No painel, todos concordaram sobre o papel importante dos games na Educação. “Precisamos fazer a escola ser um ambiente prazeroso e os games têm papel fundamental nisto”, disse Lynn Alves. “Os resultados são evidentes, os jogos chamam o aluno para diversas questões”, complementou Samara. “Os jogos estimulam um conhecimento para além do jogo. Alunos que jogaram Dante’s Inferno quiseram ler A Divida Comédia depois. Outros jogaram God of War e quiseram conhecer mais sobre a mitologia grega. Isso é o que chamamos de aprendizagem colateral”, afirmou Lynn Alves.
Ao final do debate, Andrea Ramal afirmou que quanto mais trabalha com tecnologias na educação, mais vê que elas não substituem os professores. “Precisamos virar mais arquitetos cognitivos e formadores de valores para que os alunos possam ser usuários críticos dessas tecnologias. Que privilégio ser professor e usar de forma positiva essas ferramentas poderosas”, finalizou.
Arena reúne professores e alunos para discutir sobre tecnologia
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Outro destaque do evento foi a Arena Conecta que reuniu 12 alunos que se destacaram em uma competição de games colaborativa no Conecta em um painel sobre as mudanças nas escolas com a implementação da tecnologia, notadamente as redes sociais e a Internet. O encontro foi mediado pelo blogueiro Jorge Freire, o Pai Nerd.
“Quando eu tenho alguma dúvida, até procuro meus professores no Facebook para me ajudarem nos trabalhos”, disse Bryan Santos, aluno da rede municipal do Rio. Já a aluna Laryssa Bomfim, do Sesi, foi mais direta: “Se na escola eu não posso usar o Facebook, quando eu chego em casa, bloqueio a escola”, disse, arrancando gargalhadas da plateia. A professora do Senai, Simone Cristina, argumentou que os alunos podem aproveitar melhor essa oportunidade. “Ainda não há uma cultura definida sobre como usar as redes sociais para a educação, mas nós professores estamos à disposição para ajudar”.
Em contrapartida, a aluna Vanice Souza, do Senai, contou que em sua escola as turmas criaram grupos de estudo no Facebook. “As redes sociais não só podem, como já estão ajudando. Nos grupos, discutimos os trabalhos com os colegas de sala e os próprios professores”, explicou. O professor Cícero da Silva, da rede municipal de ensino, também deu seu depoimento sobre as vantagens desse tipo de interação. “As redes sociais são bloqueadas na escola, mas isso não impede que a gente tenha os grupos. No Facebook, discutimos trabalhos, enriquecemos assuntos discutidos em sala e depois o retomamos na escola”, disse. Apesar disso, o educador admite que ainda é preciso amadurecer as regras para a utilização das redes sociais no ambiente de ensino.
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Através de um sistema de votação eletrônica da Arena, professores e alunos concordaram que a internet trouxe mudanças: 93,8% acreditam que a maneira de ensinar e aprender sofreu alterações. “Com o advento da internet, o professor deixou de ser o detentor de conteúdo, o centro das atenções passou a ser o próprio aluno e o educador se tornou um mediador do conhecimento”, comentou o professor Diego Teixeira, da rede estadual do Rio.