Por tiago.frederico

Brasília - A situação precária de escolas públicas do Distrito Federal (DF) não é um assunto novo para os moradores. Um exemplo de abandono é o Centro de Ensino Médio Elefante Branco, escola tradicional de Brasília, construída há 53 anos. O lugar nunca passou por uma reforma. Partes do teto estão caindo, os pisos são irregulares, existem rachaduras de mais de cinco centímetros e infiltrações nas paredes. Também não há extintores de incêndio.

A diretora, Joselma Ramos, conta que o dinheiro que a escola recebe só dá para resolver pequenos problemas e diz que o local já foi condenado diversas vezes pela Defesa Civil. “Obviamente que a gente tenta, como gestor, com o pouco dinheiro que é mandado para a escola, fazer os reparos, nós pedimos isso para a Secretaria de Educação. Mas as obras têm que ser tão constantes e o prédio é tão velho que outros problemas vão aparecendo, é um trabalho que não cessa”. Joselma acrescenta que nem os alunos, nem os funcionários, conseguem frequentar o local tranquilamente diante da situação. “A segurança aqui sempre vai estar em risco. A gente nunca sabe o que pode acontecer”.

A massoterapeuta Carla Silva, mãe de uma aluna do terceiro ano do ensino médio no Elefante Branco, reclama da falta de infraestrutura. “Está decaindo cada vez mais. Ficaram de fazer uma reforma, os alunos esperaram isso porque seriam transferidos para outros colégios do DF, mas até hoje nada.”

Centro de Ensino Médio Elefante Branco%2C em BrasíliaDivulgação

Se estudar em uma escola em péssimas condições já é ruim, pior ainda é não ter um local fixo. Segundo a diretora Alessandra Victor, da Escola Classe 1 da Estrutural, região administrativa a 15 quilômetros do Centro de Brasília, desde que o colégio foi interditado, em 2012, por causa do risco de explosão causado por gás metano, os 900 alunos já mudaram de endereço três vezes. As escola foi fechada porque havia sido construída em cima de um lixão. “Nós ficamos em três espaços, uma parte ficou no Centro Educacional (CED) 4 do Guará, outra parte em uma escola na 315 Sul, na Região Central da capital, e outra na Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação (Eape), também na Asa Sul. No ano seguinte, saímos da CED 4, ficamos na 315 e no Eape. No ano passado, veio todo mundo para a Eape, e a gente continua aqui.”

Segundo Alessandra, o governo oferece transporte gratuito e merenda aos estudantes, mas eles não se sentem seguros no local. Ela afirmou que não há controle de acesso ao Eape e que qualquer pessoa pode entrar nas dependências do prédio sem ser identificada. “Nós temos medo porque não existe uma guarita, uma portaria, qualquer um pode entrar lá, e não dá pra saber se a pessoa está bem intencionada”.

De acordo com o subsecretário de Planejamento Educacional do DF, Fábio Pereira, os alunos serão realocados em um novo espaço no Setor de Indústrias Gráficas (SIA), a 14 quilômetros do Centro de Brasília, em abril, até que a situação da escola na Estrutural seja resolvida. “Esse espaço está em processo de assinatura de contrato. Já foi avaliado pela Agência de Fiscalização do DF (Agefis), pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) e pela nossa equipe de arquitetura e engenharia. O prédio foi aprovado, agora nós estamos aguardando a emissão do habite-se, assim que esse documento sair nós vamos poder locar e os estudantes serão transferidos para lá”, garantiu.

O governo do Distrito Federal informou que 320 das 657 escolas passaram por pequenos reparos antes das aulas, um gasto de R$ 3,5 milhões. Mas as grandes reformas ainda não têm previsão para serem feitas. O governo informou que está concluindo um plano de obras junto com as 14 regionais de ensino, e quando tiver dinheiro no caixa, vai começar os processos de licitação.

Na última segunda-feira, os professores da rede pública do DF entraram em greve por causa do atraso no pagamento de salários. Cerca de 460 mil alunos vão ficar sem aula até sexta-feira - quando está marcada uma nova assembleia dos docentes. A categoria decidiu parar as atividades até que uma nova reunião com o governo seja realizada. Eles fizeram uma manifestação em frente ao Palácio do Buriti, sede do governo local, na última segunda, para cobrar o pagamento de benefícios atrasados.

A proposta inicial era que o débito de R$ 120 milhões referente a férias e décimo terceiro atrasados e rescisão contratual de temporários seria parcelado até junho. Após reunião entre representantes do Sindicato dos Professores e integrantes do GDF, o governo decidiu firmar alguns compromissos para resolver o problema da dívida e adiantar o pagamento. Entre eles está a tentativa de acelerar a Antecipação da Receita Orçamentária (ARO), que foi aprovada na Câmara, mas ainda precisa do aval da União. Mesmo assim, os professores decidiram cruzar os braços e aguardam nova negociação.

As aulas na rede pública do DF deveriam ter começado na última segunda-feira, com duas semanas de atraso em relação ao primeiro calendário anunciado, mas os alunos encontraram os portões fechados. Com a alteração, as aulas devem terminar no dia 29 de dezembro e o recesso no meio do ano será menor.

Relatório do TCU mostra que 44% das escolas no DF precisam de reparos

?Uma quadra de esportes com cobertura, mas sem piso. No parquinho, o balanço só tem as traves. A gangorra está quebrada e o escorregador, enferrujado. Em volta, o mato está alto. As poucas salas de aula são pequenas e mal ventiladas. Algumas têm até buracos no chão. São cinco salas e dois banheiros para 94 alunos. Essa é a Escola Classe Incra 7, em Brazlândia, unidade rural que fica a cerca de 35 quilômetros do Plano Piloto. O ensino era integral até o ano passado, mas o sistema parou de funcionar por falta de infraestrutura.

Segundo a diretora, Cristiane Milani, a unidade não está na lista das que vão receber uma reforma este ano. “A gente saiu da educação integral de dez horas, que é um ganho pedagógico maravilhoso, porque a estrutura física nos limitou. Ninguém soube explicar o motivo de não termos sido contemplados, nem a própria regional de ensino. Temos uma sala com um buraco de 30 centímetros de comprimento, já com determinada profundidade, então a gente não consegue entender o porquê de nossa escola não ter sido atendida”, lamentou.

Lucas Braga (6 anos) é neto da aposentada Lurdes Braga e estuda na Escola Classe Incra 7. A avó conta que admira o trabalho dos professores, mas reconhece que o local precisa de uma série de reparos. “Eles separam um dia no mês para a família, eu achei isso muito bom, entrosa as crianças. Mas eu acho que poderia fazer mais concreto, para as crianças não ficarem pisando na terra, e melhorar a pintura, que está muito feia”, observou.

Horário no Centro de Ensino 7 de Brazlândia (DF) era integral até o ano passado%2C mas o sistema parou de funcionar por falta de infraestruturaDivulgação

Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado no fim do ano passado apresenta o diagnóstico da educação no Distrito Federal. O estudo, que avaliou em 2014 as instalações físicas das escolas públicas e os problemas relacionados à manutenção e reforma, mostra que 44% das escolas precisam de pequenos reparos, 31% estão em condições ruins e 6% estão em péssimas condições, a maioria delas no campo.

Na Escola Classe Incra 7 os utensílios da cozinha são guardados no chão, embaixo da pia, porque não há armários. Além disso, as crianças são obrigadas a comer o mesmo tipo de alimento por vários dias, porque a comida que chega não é diversificada.

O aluno Lucas disse que, às vezes, enjoa da merenda. “Eu não gosto muito, queria que tivesse mais macarrão e salsicha”, comentou o menino.

Atualmente, a escola tem cinco professores, mas precisa de mais quatro. Segundo o diretor de imprensa do Sindicato dos Professores do DF, Samuel Fernandes, a carência de profissionais em toda a rede pública de ensino é muito maior do que os números apresentados pelo governo. “Hoje, a Secretaria de Educação alega que há um déficit de cerca de 3.500 professores, mas a carência de efetivos e temporários na rede é bem maior. Falta uma movimentação do governo para contratar”.

O Distrito Federal tem, atualmente, 75 escolas rurais, 12 só em Brazlândia. A principal característica das escolas no campo é que elas são pequenas, com poucos professores. Em muitas delas, o mesmo profissional exerce atividades de diretor e dá aulas para diferentes séries.

Segundo o GDF, 3.500 professores foram contratados temporariamente na rede pública em janeiro. A estimativa é que sejam necessários mais 3 mil ao longo do ano para suprir as vagas de futuras licenças.

Educação de jovens e adultos no DF terá cerca de 55 mil estudantes este ano

?Raimunda Oliveira nasceu em uma família pobre no interior do Maranhão. Começou a trabalhar ainda criança e precisou trocar os livros e cadernos pela enxada. Junto com oito irmãos, ajudava o pai a capinar, colher arroz e quebrar coco. Depois de alguns anos ela veio morar em Brasília para tentar uma vida melhor. Aqui, se casou e teve dois filhos.

Hoje, com 34 anos de idade, Raimunda, que trabalha como doméstica, decidiu aprender a ler e escrever. “Mudou muita coisa, porque a gente já lê um bilhete, a gente vai a um lugar e sabe ler a placa de um ônibus. Eu dependia muito dos outros, falava: moço esse ônibus vai para onde? Aí eu ia ao hospital: como é esse nome? Agora não, eu mesma leio, só às vezes eu não entendo, aí pergunto”, disse ela.

Assim como Raimunda, milhares de moradores do Distrito Federal decidiram estudar, mesmo depois de ter ultrapassado a idade escolar. São os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que têm mais de 15 anos de idade e ingressaram no ensino fundamental, ou aqueles que têm mais de 18 e entraram no ensino médio. Segundo a Secretaria de Educação do DF, em 2015 serão cerca de 55 mil estudantes nessa modalidade.

Olga Setúbal deu aula para adultos em uma escola de Santa Maria e disse que o método de alfabetização utilizado é diferente daquele para crianças. “Como no meu caso eram pessoas que não sabiam ler e escrever, então a gente precisava de uma motivação diferente, precisava trabalhar a realidade, os meios de transporte, a vida cotidiana deles e o trabalho.”

O programa é destinado a jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram os estudos. A maioria deles trabalha durante o dia, por isso, as aulas geralmente são à noite. Além do cansaço, eles precisam superar barreiras como a distância entre a casa e a escola e o medo da violência. E foi justamente por causa do grande número de assaltos que os 500 alunos da EJA do Centro Educacional São Francisco, em São Sebastião, foram transferidos para outro colégio. A diretora, Leísa Sasso, disse que os alunos se sentiam muito inseguros. “São ruelas muito estreitas que favorecem a criminalidade. A gente ouviu muitos relatos de estudantes contando que foram roubados celulares, pertences, bicicletas a caminho da escola” afirmou.

Programa é destinado a jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram os estudosDivulgação

A Secretaria de Educação do DF reconhece que a violência é um grande motivo para a evasão escolar. Segundo a diretora do São Francisco, as turmas começavam com 60 alunos e terminavam com menos de dez. De acordo com o coordenador de Educação de Jovens e Adultos, Claudio Amorim, este ano o DF vai aderir ao Pacto pela Segurança, uma parceria com a Secretaria de Segurança Pública e o governo federal. “A intenção é criar projetos setoriais entre as secretarias para evitar esse processo de evasão por meio da violência. Mas, sim, essa é uma realidade em alguns locais, principalmente em algumas regiões mais longínquas, na zona rural. A meta é conseguir reverter a situação”, ressaltou.

A pessoa que tem interesse em se inscrever na Educação de Jovens e Adultos do DF deve ligar para o telefone 156. O estudante pode escolher duas escolas para concorrer a uma vaga. Ele precisa informar o nome completo, endereço e CEP. Depois, é só conferir se foi selecionado no siteda Secretaria de Educação e ir à escola fazer a matrícula.

É possível ainda estudar a distância. O conteúdo é ministrado pela internet, em um ambiente virtual desenvolvido pelo Ministério da Educação. A matrícula é feita pessoalmente na secretaria do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Cesas), que fica na Asa Sul, área central da capital.

A Universidade Católica de Brasília também tem um projeto social para jovens e adultos, o Alfabetização Cidadã. Lá, muitos professores trabalham de forma voluntária para atender a alunos com mais de 18 anos que vivem em situação de vulnerabilidade social e têm renda mensal até R$ 400,00.

A estudante Márcia Garcia é voluntária no programa e disse que a experiência trouxe muitos benefícios para a formação profissional. “Me mostrou o lado sensível que a gente tem que ter com essas pessoas. É um cidadão que, infelizmente, não consegue exercer plenamente a cidadania pela condição de não leitor, ou pela oportunidade que não teve há muito tempo ou que teve de ser abandonada por outras necessidades que eram prioridade no passado”, explicou a jovem.

O projeto atende na própria universidade e em regiões administrativas como Areal, Samambaia sul e norte, Riacho Fundo 2, Varjão, Recanto das Emas e Brazlândia. Para se inscrever basta ir ao Campus 1 da Católica, que fica em Taguatinga.

Você pode gostar