Por thiago.antunes

Rio - No ultimo ato da Via Sacra, o Papa Francisco fez um pronunciamento que emocinou mais deum milhão de pessoas. Mais uma vez, ele falou sobre as questões de corrupção nas instituições políticas e das vítimas da tragédia em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, bem como outras fatalidades. A celebração foi composta de 13 atos e o 14ª e derradeiro, foi uma fala do Santo Padre.

"Com a cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas de violência, que já não podem clamar, sob os inocentes indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldade, que choram as perdas de seus filhos (neste momento, o Pontífice citou as vítimas do incêndio em Santa Maria), ou que estão vivendo presos a paraísos artificiais, como a droga; a cruz une todas as pessoas que passam fome. O mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; Jesus se une aos perseguidos pela religião, ideias ou simplesmente a cor da pele; nela Jesus se une a jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por egoísmo ou corrupção; ou que perderem a fé na Igreja; pela incoerência de cristãos ou ministros do evangelho", disse o Santo Padre.

Fiéis ficam eufóricos durante a passagem do Papa Francisco em CopacabanaReuters










A celebração foi composta por 14 estações. A primeira estação (Jesus é condenado) mostrou um castelo romano com uma rampa que leva ao cenário em que Pôncio Pilatos, governador romano, aparece e lava as mãos, no famoso gesto de quem não se responsabiliza pelo que vai acontecer. A segunda (Jesus carrega a sua cruz) mostrou o pátio do palácio, onde oito pessoas andam com cruzes negras com nomes escritos. No caminho da terceira estação (Jesus cai pela primeira vez), a cruz foi levada por 30 pessoas em peregrinação. A quarta estação (Jesus encontra com sua mãe) teve dez mulheres com seus filhos. Na quinta (Simão Cirineu ajuda Jesus a levar a cruz), vinte crianças entre 7 e 10 anos ficaram vestidos como anjos. Na sequência (Verônica seca o rosto de Jesus), um grupo de 25 mulheres entrou como em um coro grego com lenços sobre os rostos, expressando sua dor. Na sétima estação (Jesus cai pela segunda vez), 12 casais representaram os trabalhadores. A oitava (Jesus consola as mulheres em Jerusalém), mostrou os objetos são feitos de materiais orgânicos. A nona (Jesus cai pela terceira vez) teve a participação de 20 motociclistas, enquanto na décimo (Jesus é despojado de suas vestes), Jesus apareceu com uma túnica suja e rasgada, mostrando seu sofrimento.

No décimo-primeiro (Jesus na cruz) 20 jovens ficaram de terno e gravata, enquanto no décimo-segundo (Jesus morre na cruz), ficaram 20 enfermeiros. No décimo-terceiro (Jesus é descido da cruz), surdos aparecem e se comunicam na linguagem de sinais, enquanto no palco houve uma representação da Pietá. A última estação (Jesus é sepultado) ocorreu palco principal, que estava cheio de pessoas representando o mundo.

A cerimônia acabou por volta das 19h50. Os organizadores pediram que os presentes ficassem onde estavam para que a multidão se disperssasse aos poucos.

Peregrinos são assaltados

Mesmo com todo o aparato policial, que conta com mais de 7 mil homens, fiéis que vieram de longe reclamaram de ter sido assaltados na Praia de Copacabana, onde o Papa Francisco participa da Via Sacra entre jovens, na Jornada Mundial da Juventude. Um grupo de 10 pessoas relatou que estava em frente ao hotel Copacabana Palace por volta das 16h30, tirando fotos, quando foram atacados por bandidos.

Pelo menos duas das vítimas se disseram indignadas e acabaram voltando para seus alojamentos na Zona Oeste sem ver o Papa. Gabriel Bilato e Eduardo de Mello, ambos de 16 anos, perderam seus celulares em frente ao hotel. Eles vieram de Taiuva, em São Paulo, e pretendiam acompanhar a Via Sacra.

Grupo foi assaltado por bandidos em frente ao Copacabana PalaceFrancisco Edson Alves / Agência O Dia

"Estou muito decepcionado. Principalmente porque o celular que me levaram pertencia à minha mãe, Cláudia, que morreu de câncer há sete meses. Não nos resta mais nada a não ser voltar para nossas casas e dormir", disse Eduardo.

Ativista: 'Queremos que o Papa veja o que está acontecendo na cidade'

Cerca de 300 pessoas fazem protesto em Copacabana. Os ativistas passaram pela Avenida Atlântica, onde o Papa celebrou a Via Sacra e estão se misturando aos peregrinos.

Comerciantes da Rua Barata Ribeiro, por onde os ativistas já passaram, fecharam as portas às pressas. O clima ainda é de tranquilidade. A PM informou que adotará a mesma tática desta quinta-feira, quando policiais acompanharam o ato no meio da multidão.

Não houve tumulto até agora. O grupo protesta contra o governador Sérgio Cabral. Muitos PMs estão misturados aos ativistas, bem como peregrinos. A Estação Cardeal Arcoverde chegou a ficar obstruída devido à grande aglomeração de manifestantes em frente à entrada principal, mas o local ainda está liberado.

O estudante de design gráfico Anderson Bonfim, 21 anos, que faz parte do grupo de ativistas Anonymous Rio, disse que o protesto desta sexta-feira na Praia de Copacabana pretende alertar o Pontífice sobre os problemas da cidade. A manifestação está sendo chamada de "Papa, olha como somos tratados".

"Queremos que o Papa veja o que está acontecendo na nossa cidade. O protesto tem tudo para crescer até o fim do dia. Por conta do difícil acesso ao bairro, é cedo pra dizer que tem pouca gente por aqui", comentou o estudante.

Socorristas voluntários estão de plantão nas ruas do entorno. Devidamente identificados com aventais e luvas de borracha, 25 deles permanecem de prontidão. Leandro Castro, 21 anos, se formou em enfermagem e trabalha como cantor. Ele afirmou que atuou em todas as manifestações e contou o pior momento delas:

"Quando aquele rapaz tomou um tiro no tornozelo, na Tijuca, durante a final da Copa das Confederações", revelou.

PMs identificados com letras e números nos coletes e bonés, também presentes no ato desta quinta-feira, quando andaram junto com a multidão para evitar conflitos, já estão no local.

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