Por juliana.stefanelli

São Paulo - Mohammad Farid* tinha 9 anos quando viu os tanques do Exército da Síria entrando na cidade de Homs para reprimir as primeiras manifestações contra o governo do presidente Bashar al-Assad.

Ele vivia com o pai entre Homs e Aleppo , duas cidades que se tornaram foco da sangrenta guerra civil de mais de dois anos do país, e teve de viajar com um desconhecido que recebeu US$ 10 mil (mais de R$ 22,5 mil) para trazê-lo em segurança ao Brasil. Hoje, aos 11 anos, Mohammad é um dos 202 refugiados sírios que tentam reconstruir suas vidas no País e superar os traumas do conflito.

Abdul-Shakar 41 anos%2C vive no Brasil desde 2009 e cuidou da vinda do sobrinho de 9 anos da Síria para São Paulo. Ele pediu que seu rosto não aparecesse na imagemiG

"Mohammad contou histórias horríveis sobre quando estava em Homs e em Aleppo. Ele viu confrontos e matança nas ruas", disse ao iG Abdul-Shakur*, que está em São Paulo há quatro anos e é tio do garoto. A mãe de Mohammad, Aliyyah*, que desde 2007 vive no Brasil tratando uma insuficiência renal, passou por cinco meses de espera e angústia até que seu filho conseguisse chegar a São Paulo a salvo.

Mohammad é uma das cerca de 675 mil crianças com menos de 11 anos que, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), tiveram de deixar a Síria desde 2011. Segundo anunciaram autoridades da ONU na terça-feira (16), a guerra deixa cerca de 5 mil mortos por mês , com o fluxo de 1,8 milhão de refugiados sendo considerado o pior desde o genocídio de Ruanda, em 1994.

O Brasil recebe uma pequena parte dessa porção de refugiados sírios. Por causa da distância de mais de 10 mil quilômetros que separam os dois países, a maioria acaba buscando abrigo em nações perto da fronteira, como Líbano, Jordânia, Egito, Turquia e Iraque. Ainda assim, é possível perceber um crescimento vertiginoso da chegada de sírios no País a partir de 2011, quando o conflito teve início.

"Em 2012, a Síria foi a terceira nacionalidade de refugiados reconhecidos (no Brasil) atrás da Colômbia e da República Democrática do Congo. No total, temos 202 solicitantes de refúgio, dos quais 189 chegaram aqui por causa do conflito, sobretudo entre 2012 e 2013", relatou Andrés Ramirez, representante da Acnur no Brasil.

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