Rio - Um pequeno aparelho traz grandes esperanças de dias melhores a pacientes com problemas respiratórios crônicos. É o marca-passo diafragmático, que após procedimento cirúrgico, substitui os aparelhos de CTIs convencionais, permitindo aos portadores da doença se locomover e ter vida praticamente normal (veja ilustração ao lado).
No Rio, três pacientes — uma jovem e duas crianças — fizeram a cirurgia do novo marcapasso no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe). E o melhor. Os marca-passos são distribuídos pelo Estado do Rio e o procedimento é coberto totalmente pelo Sistema Único de Saúde, SUS.
A cirurgia foi supervisionada pelo neurocirurgião Carlos Telles, professor-adjunto da Uerj e fundador da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro. Telles explica que o marcapasso implantado no paciente estimula o nervo frênico, estrutura localizada na medula cervical (pescoço) e que é responsável pela contração do diafragma (músculo que auxilia o processo de respiração).
Ele substitui o aparelho de respiração artificial, usado nas unidades de tratamento intensivo, UTIs, que deixa a pessoa limitada na cama. "É uma ferramenta que permite ao indivíduo ter uma vida normal, pois não permanece no leito, afirma o neurocirurgião. Segundo o especialista, o procedimento é inédito. O aparelho estava em fase de desenvolvimento e aperfeiçoamento há 30 anos nos Estados Unidos.“Ele foi aprovado no final do ano passado. Em seguida, a Anvisa validou também. Nós fizemos a primeira cirurgia em maio”, contou.
O procedimento é indicado para pessoas que sofreram traumatismo na coluna cervical, meningite ou que tenham a Síndrome de Ondine e consequentemente perderam a capacidade de fazer o diafragma contrair-se e comandar a respiração.
“Se o paciente não for tetraplégico, pode ter uma vida normal. O processo é feito aos poucos, pois o diafragma está muito tempo parado e precisa de um período para acostumar-se e voltar a funcionar. Antes da cirurgia, ele permanecia 24 horas ligado ao respirador. Agora, fica uma parte do dia com o aparelho. Os resultados da operação foram bons, não houve rejeição”, destacou.
Quem precisar do marcapasso pode entrar em contato com o setor de neurocirurgia do hospital. Telefones 2868-8426 e 2868-8427.
Estado distribui aparelhos
Com o novo procedimento, o Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) tornou-se o pólo de acompanhamento e colocação de marcapassos diafragmáticos do estado. Os aparelhos têm sido fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde.
A partir disso, foi formada equipe multidisciplinar com profissionais da cirurgia torácica,neurocirurgia, anestesiologia, terapia intensiva de adultos e de crianças, fisioterapia respiratória, neurofisiologia, psicologia e serviço social.
“É um procedimento que exige a participação de diferentes especialidades, pois envolve métodos distintos. Como o fisioterapeuta respiratório, que vai ajudar no treino da respiração. O paciente está debilitado devido ao trauma e precisa desse suporte no início”, conclui o neurocirurgião Carlos Telles.