Por nara.boechat

Rio - Manter as crianças em casa é a garantia de segurança? Nem sempre. O ambiente doméstico é justamente o campeão de registros de intoxicação, e os menores de 5 anos são as maiores vítimas. Cerca de 20% dos acidentes em 2010 aconteceram nessa faixa etária. Prevenção e atenção dos pais são o melhor remédio para a curiosidade dos pequenos.

O último levantamento do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), da Fiocruz, aponta 103.184 intoxicações no país, em 2010. Dessas, 23.123 (22,4%) aconteceram em menores de 5 anos. Entre os pequenos, 36% dos acidentes ocorreram com medicamentos, 23% com produtos de limpeza e 8% com produtos químicos, como tinta e solvente.

Dois fatores explicam os números: curiosidade infantil e paladar menos apurado. “Nessa idade, eles já têm autonomia, mexem em tudo e ainda não estão com o paladar formado. Não sentem tanto ao ingerir algo tóxico ”, explica Rosany Bochner, pesquisadora e coordenadora do Sinitox.

Clique na imagem para ampliarArte O Dia

Outro problema é a aparência de medicamentos e produtos de limpeza que, muitas vezes, remete a balas e bebidas, devido a formato, cheiro e cor. A lei de deixar os produtos ‘fora do alcance das crianças’ pode não ser suficiente. É importante deixar longe da visão dos pequenos e com lacre de segurança para que eles não consigam abrir.

“Muitos produtos têm tampa de rosca ou são colocados em garrafa pet, o que confunde a criança. Teve uma que comeu soda cáustica achando ser leite em pó”, conta.

Considerado a solução para os casos de acidentes, o leite na verdade faz mal. De acordo com Lilia Ribeiro Guerra, coordenadora do Centro de Controle de Intoxicações, do Hospital Universitário Antônio Pedro, ingerir a bebida pode aumentar a absorção da substância tóxica, enjoar a criança e provocar reações químicas no estômago, causando pequenas queimaduras. Segundo Lilia, a mesma regra vale para água, que dilui o produto ingerido, aumentando a absorção.

O tratamento varia de acordo com o agente tóxico. Lavagem gástrica é indicada até uma hora após o acidente. “Evita que a substância caia na corrente sanguínea”. Em acidentes com agentes cáusticos não há tentativa de retirar o produto do organismo, para não causar mais lesões. Nesse caso, é feita endoscopia, a criança é internada e os efeitos colaterais são tratados. Para produtos não cáusticos, a solução está no carvão ativado. O pó ingerido absorve a substância do estômago e intestino, que é eliminada pelas fezes.

Embalagem deve ser guardada e mostrada ao médico

Em 2006, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária criou o Disque Intoxicação (0800 722 6001). O número funciona 24 horas por dia e oferece informações em caso de acidentes com produtos tóxicos. No Rio de Janeiro, o centro do Hospital Universitário Antônio Pedro orienta a população e os médicos que estejam tratando casos de intoxicação sobre os riscos de cada substância. Não é feita prescrição de remédios por telefone. O local também funciona sem intervalos e os número são: 2629-9253 e 2629-9251. A recomendação é que os pais guardem a embalagem do produto consumido e tentem precisar a quantidade.

Projeto de lei prevê tampas mais seguras

Para evitar acidentes, há cerca de 40 anos países europeus, além dos Estados Unidos, adotaram tampas específicas para remédios e produtos de limpeza. No Brasil, a solução que parecia simples é tema de um Projeto de Lei (PL) que se arrasta desde 1994 na Câmara dos Deputados.

O projeto do ex-deputado Fábio Feldmanm prevê a adoção de ‘Embalagem Especial de Proteção à Criança’ em medicamentos e produtos químicos de uso doméstico, que apresentem risco à saúde. O produto deverá ser confeccionado de modo que seja difícil para uma criança com menos de 5 anos abrir ou retirar uma quantidade tóxica. Ao mesmo tempo, deve ser de fácil manuseio por adultos e idosos.

Segundo Feldmann, a proposta está parada na Comissão de Constituição e Justiça, devido à pressão das indústrias que temem o encarecimento dos produtos com a aprovação da lei.

Ele conta que a sugestão do PL partiu de um pediatra e que, no exterior, as empresas que atuam no Brasil já utilizam as tampas seguras. “É um absurdo que um projeto de tanta utilidade pública esteja parado por causa do lobby de alguns. Até hoje, arrumo formas para que o projeto seja aprovado e siga ao Senado”.

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