Johanesburgo (África do Sul) - A onda de protestos que mobiliza o Brasil desde junho foi tema de conferência internacional realizada em Johanesburgo, na África do Sul, onde mais de 1.300 líderes de 190 países se reuniram na semana passada. A representante brasileira da organização One Young World, que associa jovens do mundo todo em projetos de cunho humanitário e ambiental, Tatiana Capitanio, analisou as manifestações e suas implicações no país.
O movimento foi comparado a outros em curso este ano em diferentes nações, como Turquia, Bulgária e Egito. Segundo jovens envolvidos nos protestos em cada país, há muitos pontos em comum, como mobilização por redes sociais e forte repressão policial. O evento foi encerrado na última sexta-feira, depois de quatro dias, com discurso de Winnie Mandela, mulher do ex-presidente Nelson Mandela.
“Na Turquia, os protestos começaram por causa de um parque que seria demolido para construção de um shopping. Nem havia grande mobilização, mas a repressão policial foi tão desproporcional que virou o alvo de um protesto muito maior”, contou Kaan Ozguney, representante turco da organização que leva o nome do evento.
Na Bulgária, segundo a jovem engajada na causa Evgenia Rasheva, o problema inicial foi o alto custo da eletricidade. “Começou uma mobilização na Internet de revolta geral contra temas diversos, como abuso de poder, corrupção. O país se dividiu em quem apoiava e criticava os protestos. O que faltou foi apontarem mais as soluções, ao invés de só falarem de problemas”, criticou.
Para o jovem embaixador do Egito, Amr Mohamed, o movimento lá foi enfraquecido pois a mídia “demonizava”quem estava se levantando contra os militares. “Todos nós dizíamos: as pessoas que querem o poder hoje não nos representam. Houve uma identificação de grupo. Protestos podem não levar a mudanças importantes no país, mas certamente levam a transformações em quem está protestando”, analisou Mohamed, ressaltando que não adianta ficar em uma “bolha online”: “Muita gente que está na rua não está na Internet. Se você não vai para a rua, não escuta que eles têm a dizer e seus argumentos ficam pobres”.
Todos os jovens disseram que cogitam seguir carreiras políticas em seus países. “O movimento no Brasil pode ter sido descentralizado, mas colocou temas políticos na agenda, mudou a rotina auto-centrada dos jovens. Afinal, as reivindicações mais amplas precisam ser acompanhadas de mudanças na rotina e comportamento de cada um para terem coerência, sobretudo as envolvendo corrupção. O direito de se expressar precisa ser garantido”, analisou Tatiana.
O evento foi encerrado com discurso de Winnie Mandela, que elogiou os projetos apresentados e o engajamento da juventude atual. “Como avó, bisavó e mãe, me pergunto onde falhei com vocês, o que poderíamos ter feito melhor e o que o futuro reserva. Comrade (Nelson) Mandela disse que não há melhor reflexo de uma sociedade do que a maneira como trata seus jovens. Agora vocês estão criando um mundo que deveríamos ter criado para vocês. Se queremos prestar respeito a nosso amado Madiba, nos usem enquanto traçam seu caminho a frente”, ensinou. O ex-prisioneiro e amigo de Mandela, Ahmed Kathrada, e o jogador de rugby que inspirou o filme Invictus, Francois Pienaar, também falaram aos jovens sobre o exemplo deixado por Mandela.
Há 25 brasileiros envolvidos no One Young World. Para se inscrever, é preciso acessar o site da instituição e descrever um projeto seu em andamento. A proposta é avaliada pela equipe.