Johanesburgo - ‘Como avó, bisavó e mãe, me pergunto onde falhei com vocês, o que poderíamos ter feito melhor e o que o futuro reserva”, desabafa Winnie Mandela, ex-mulher do homem que acabou com a segregação racial na África do Sul. Uma plateia de milhares de jovens de 190 países reunidos em Johanesburgo para mudar o mundo está atenta às palavras. Em uma das cadeiras, Amanda Dufresne, americana que hoje trabalha para o Google, se prepara para falar, emocionada. Quando chega sua vez de subir ao palco, é Mandela quem chora.
“Vim aqui falar sobre estupro. Fui atacada há 10 anos e quase morri. Por sorte, tive família que pagou meu tratamento”, começa. Após dar a volta por cima, Dufresne virou ativista da fundação mundial Soar, que ajuda vítimas do crime. “Soube da história da jovem atacada em ônibus no Rio. É preciso mais campanha de prevenção e apoio aí”, comentou.
O presidente da ONU Kofi Annan, o Nobel da Paz Muhammad Yunus, músicos, políticos, astronautas, grandes nomes do ativismo mundial foram os próximos a endereçar suas lições aos olhares esperançosos da audiência no Young One World Summit, semana passada. A reunião promovida pela organização de mesmo nome convoca jovens que têm projetos de cunho ambiental e social em andamento nos seus países. O DIA era o único jornal brasileiro presente.
Ilwad Elman, da Somália, também compartilhou sua história. Depois de ter o pai assassinado em guerra civil, conseguiu exílio no Canadá com a mãe. Mas ter a própria vida resolvida não foi suficiente: “Voltamos para a Somália, não queríamos virar as costas para nosso povo. Criamos ONG para lutar contra a violência contra mulheres”.
Desemprego é debatido
?O desemprego entre jovens foi uma das principais mazelas discutidas no evento. Atinge 4 milhões por ano no mundo. Para resolver o problema, ativistas criaram aplicativos como o Monkey Tie, do francês Jeremy Lamri, uma plataforma de recrutamento online baseada na personalidade dos candidatos que não têm muita experiência no currículo. Cem empresas e 10 mil candidatos já aderiram.
Outra iniciativa aplaudida foi a de Adilard Kakinze, da Romênia, que criou um sistema de alerta de vagas de emprego por SMS: “Os jovens não tinham dinheiro para comprar jornais ou assinar serviços na Internet, mas todo mundo tem celular”, justifica.