Pesquisa mostra que criança identifica como parente quem lhe trata com afeto
Estudo faz parte da dissertação de mestrado ‘Entre o Roteiro e a Viagem: Famílias e Crianças pelo Caminho’, da psicóloga Gizele Bakman
Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - ‘Família é umas pessoas que gostam da gente; ficam com a gente; que estão no nosso cotidiano.” A explicação é do pequeno Pedro, de 10 anos. Enquanto muita gente grande recorre a critérios biológicos e jurídicos para definir família, para as crianças a ‘seleção’ de quem pode ser considerado ‘parente’ é mais simples e baseada no afeto. É o que mostra pesquisa feita no Rio de Janeiro com 22 pessoas de 6 a 11 anos.
O estudo faz parte da dissertação de mestrado ‘Entre o Roteiro e a Viagem: Famílias e Crianças pelo Caminho’, da psicóloga Gizele Bakman. O estudo foi realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e apresentado no ano passado. O objetivo, diz Gizele, foi estudar a compreensão que os pequenos têm de família e os critérios que eles têm sobre quem pode ser considerado um parente.
Na pesquisa, eles se expressaram por meio de conversas e de desenhos de famílias (que deveriam conter os membros que poderiam ser considerados como sendo da família). Segundo Gizele, o critério que pautou quem entraria na ilustração foi: quem cuida, tem contato e dá carinho, mesmo que não seja um parente ‘de sangue’. Gizele Bakman conta casos de participantes que não incluíram o irmão, porque não têm boa relação com ele. Outros, diz ela, excluíram o pai biológico devido à falta de convívio.
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Um fato curioso: animais de estimação foram considerados membros da família e desenhados pelas crianças. “Há crianças que incluem padrastos e madrastas na família, porque recebem deles afeto e cuidado”, disse Gizele.
Participaram 21 crianças cariocas, de escolas públicas e privadas, das zonas Norte e Sul da cidade, e uma paulista. Além disso, foram contemplados diversos modelos de família: pai e mãe morando juntos; presença de madrasta ou padrasto; pais adotivos e criação apenas pelo pai, pela mãe ou pelos avós. O trabalho envolveu ainda menores que vivem em um abrigo da cidade, em Vila Isabel.
Segundo ela, não houve diferença na forma de enxergar a família em relação aos estudantes de escolas públicas e privadas. Além disso, os responsáveis não tiveram acesso aos desenhos. Gizele explica que qualquer combinação é considerada família pelas crianças. “Elas não se prendem a padrões preestabelecidos. Qualquer modelo é possível, desde que tenha amor, convivência e cuidado”, diz ela.
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Para Anna Paula Uziel, orientadora do trabalho e professora do Instituto de Psicologia da Uerj, independentemente da estrutura, a família deve proporcionar à criança afeto, carinho e atenção. “As pessoas trazem modelos prontos na cabeça e acham que, se a criança não está inserida naquele modelo, terá lacunas. Todos podem oferecer o que a criança precisa, qualquer que seja o modelo familiar”, aponta.