Rio - Vilão a ser evitado para uns; essencial à saúde para outros. Quando o assunto é vitamina D, a exposição aos raios solares é ponto de discussão entre dermatologistas e endocrinologistas. De um lado, alertas sobre a alta incidência de câncer de pele. Do outro, o fato de o sol ser a única fonte natural — e gratuita — da substância.
Um detalhe esquenta a discussão. Para produzir a vitamina, a pessoa precisa se expor ao ‘sol proibido’: entre 10h e 16h, e sem protetor solar. São os raios Ultravioleta B (UVB) que, ao penetrarem na pele, promovem reação no corpo que fabrica a substância. Fora desse horário, o sol é ‘fraco’ e, com filtro, os raios não ‘entram’ na derme. A boa notícia é que bastam dez minutos diários de exposição para obter a vitamina D.
Mas a alimentação não poderia ser uma fonte? De acordo com Marise Lazaretti Castro, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, é preciso grande quantidade de alimentos ricos na vitamina — como salmão, atum e bacalhau — para alcançar os níveis adequados. “A fonte alimentar não é relevante, porque o brasileiro ingere menos do que deveria para produzir quantidade suficiente da vitamina. Dependemos do sol”, aponta.
Já Flávia Ravelli, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, afirma que a entidade não recomenda a exposição sem filtro solar em nenhum momento do dia. Ela sugere que pessoas com carência da vitamina recorram à suplementação. O medicamento custa, em média, R$ 30 por um mês. “O câncer de pele é pior do que problemas por falta de vitamina D. Para o governo é mais em conta a suplementação do que tratar o câncer”, afirma a dermatologista.
A endocrinologista concorda que ingerir suplementos tem o mesmo efeito da exposição ao sol, mas lembra que o preço do remédio pode não ser acessível para todos. Marise considera exagero a recomendação de evitar o sol e sugere o uso de filtro apenas no rosto, no dia a dia. Segundo ela, basta pequeno pedaço da pele no sol, como a dos braços, para produzir vitamina. “O risco de câncer com dez minutos diários de sol é muito baixo.”
Fraqueza muscular e dos ossos
Com a correria do dia a dia, em que as pessoas saem bem antes das 10h de casa para trabalhar e só retornam quando o sol está se pondo, já se considera a existência de uma epidemia mundial de falta de vitamina D, dizem especialistas. Fraqueza muscular, problemas ósseos e risco de osteoporose são os efeitos comprovados da carência do elemento no organismo.
Estudos apontam ainda que esclerose múltipla, diabetes, artrite reumatoide e até câncer de próstata e tumores de mama também estariam relacionados à deficiência.
Projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados prevê que pessoas que trabalham em locais fechados tenham intervalos ao ar livre para ‘banhos de sol’. Pelo projeto, profissionais que passam ao menos seis horas em ambientes fechados, além de estudantes e pacientes internados em hospitais, terão direito a 15 minutos de exposição solar, três vezes por semana, sempre antes das 16h.
O projeto de lei em tramitação prevê ainda o enriquecimento do leite com vitamina D. A bebida, por ter gordura, seria a ideal para conservar as propriedades da vitamina, de acordo com o autor da proposta, deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP).