Por karilayn.areias

Rio - Insurgentes pró-russos no leste da Ucrânia decidiram nesta quinta-feira ir em frente com a realização do referendo pela autonomia da região, a ser realizado neste domingo, contrariando pedido do presidente russo Vladimir Putin para adiar a votação.

Homem da comissão eleitoral da auto-proclamada república Donetsk organiza cédulas para referendo dentro da sede da Comissão%2C em Donetsk%2C UcrâniaReuters

Os votos pela realização do referendo foram unânimes, disse um líder da autodeclarada República Popular de Donetsk. "Nós acabamos de votar no Conselho do Povo. A data do referendo foi endossada por 100 por cento (dos votantes). O referendo será realizado em 11 de maio", afirmou o líder rebelde Denis Pushilin aos repórteres.

Enquanto o chamado de Putin pelo adiamento da votação na quarta foi visto como parte do esforço do país em acabar com os confrontos e negociar acordo com o Ocidente, ele também pode ter alimentado as tensões nesta quinta por supervisionar exercícios militares que, de acordo com as agências de notícias russas, simularam maciço ataque nuclear de retaliação em resposta a um ataque inimigo.

De acordo com Putin, porém, o exercício que envolve as forças nucleares russas havia sido planejado desde novembro, mas foram realizadas enquanto as relações entre a Rússia e o Ocidente caíram para seu nível mais baixo desde a Guerra Fria.

Também na quarta, Putin declarou que a Rússia retirou suas tropas da fronteira com a Ucrânia, embora a Otan, Organização do Tratado do Atlântico Norte, e Washington disseram não terem visto nenhum sinal da movimentação dos soldados na região.

"Vejo com bons olhos a declaração da Rússia, mas até agora não vimos qualquer indicação de recuo das tropas", disse o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, por meio de um post no Twitter.

O vice-ministro da Defesa russo Anatoly Antonov acusou a Aliança e o Pentágono de deturparem deliberadamente a situação na fronteira e pediu para que eles "parar cinicamente de enganar a comunidade internacional", informou a agência de notícias Interfax.

Putin também falou de forma mais positiva sobre o plano do governo interino da Ucrânia em realizar uma eleição presidencial no dia 25 de maio, chamando-o de "um passo na direção certa", mas reiterou a contenção da Rússia de que a legitimidade do voto dependia do fim das "operações punitivas" da Ucrânia no leste e instruiu-os a iniciar um diálogo para garantir a população de língua russa que seus direitos sejam garantidos.

Referendo

No terreno na Ucrânia, muitos temem que o referendo poderá ser um ponto de inflamação para mais violência entre as tropas ucranianas e os militantes pró-Rússia que tomaram prédios do governo em dezenas de cidades do leste.

Segundo Pushilin, milhares de cédulas de voto já foram preparadas para a votação. Ele disse ainda que a sugestão de adiar o referendo "veio de uma pessoa que sem dúvida se preocupa com a população do sudeste" da Ucrânia e agradeceu Putin por seus esforços para encontrar uma saída para a situação.

"Mas nós somos apenas um megafone para as pessoas". "Nós acabamos de expressar o que as pessoas querem e demonstrar através de suas ações". A pergunta na cédula é: "Você apóia o ato de proclamação de soberania independente às pessoas da República de Donetsk?"

Uma pesquisa divulgada nesta quinta mostra que uma grande maioria dos ucranianos quer que seu país continue a ser um Estado único. O levantamento realizado no mês passado pelo Centro de Pesquisa Pew, sediado em Washington, descobriu que 77% do país quer Ucrânia mantenha suas fronteiras atuais. No leste, quase o mesmo número, 70%, compartilhou a preferência. Apenas entre os falantes de russo é que o percentual cai significativamente, mas ainda é mais da metade: 58%.

A Rússia, porém, é vista com grande suspeita, com três vezes mais entrevistados dizendo que o país provoca uma má influência sobre a Ucrânia contra aqueles que afirmam sentir impacto positivo de Moscou sobre a Ucrânia.

Na Criméia, região anexada à Rússia em março na sequência de referendo, 93% das pessoas entrevistadas expressaram confiança em Putin e disseram que a Rússia exercia papel positivo sobre a península. Sua confiança no presidente dos EUA, Barack Obama, por outro lado, foi gravado em um sombrio 4%.

Em uma pesquisa realizada pela Pew paralelamente na Rússia no mês passado, 61% concordaram que há partes de países vizinhos que pertencem ao território russo. A dissolução da União Soviética em 1991 deixou muitas pessoas de etnia russa em outros países, incluindo uma faixa da Ucrânia oriental e meridional que Putin havia descrito como território historicamente russo. Em um outro eco de Putin, 55% dos entrevistados consideram o colapso da União Soviética como uma grande tragédia.

A pesquisa foi realizada na Ucrânia de 5 a 23 de abril com 1.659 adultos. Na Rússia, foi realizada entre 4 e 20 de abril com 1 mil adultos. Ambos têm uma margem de erro de cerca de 3,5 pontos percentuais.

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