Por leonardo.rocha

Turquia - Policiais turcos usaram canhões d'água e gás lacrimogêneo nesta sexta-feira para dispersar os cerca de 1.500 manifestantes na cidade de Soma, onde cerca de 300 pessoas morreram esta semana no pior desastre registado até hoje no setor de mineração da Turquia, segundo testemunha.

As pessoas seguiram por ruas laterais enquanto a polícia intervinha em vias comerciais repletas de lojas e bancos, bem como repartições do governo local e sindicatos. À medida que a dimensão do desastre ficou evidente, a revolta se espalhou pela Turquia e os manifestantes se voltaram em parte contra os proprietários da mina, acusados de priorizar o lucro sobre a segurança, e em parte contra o primeiro-ministro Tayyip Erdogan, tido como muito chegado aos magnatas do setor e negligente na imposição das normas legais.

Tropa de choque da polícia prende manifestante enquanto centenas de pessoas protestam contra o governo em Soma%2C TurquiaReprodução


"Nenhum carvão pode aquecer os filhos dos pais que morreram na mina", dizia um cartaz manuscrito no meio da multidão, que tentava chegar até uma estátua que homenageia os mineiros, no centro da cidade, quando foi bloqueada pela polícia.

Um incêndio espalhou em poucos minutos monóxido de carbono pela mina de carvão na terça-feira, mas as causas exatas do desastre ainda permanecem obscuras, segundo informou nesta sexta-feira o operador da mina.

A maioria dos 787 mineiros tinha máscaras de oxigênio, mas a fumaça e o gás se espalharam tão rapidamente que muitos não conseguiram escapar. Foram confirmados 284 mortos e 18 desaparecidos, que ainda estariam soterrados.

Buscas

O ministério de Energia da Turquia informou que 18 mineiros continuam desaparecidos na cidade ocidental de Soma, assim, o número de mortos após explosão em uma mina de carvão pode chegar a 302.

As mortes despertaram uma série de hostilidades contra o governo de Erdogan, que já havia sido duramente criticado pela repressão sangrenta contra manifestantes na Praça Taksim, em Istambul, no ano passado, e pela repressão da mídia este ano. O partido de Erdogan solicitou ao Parlamento a criação de um inquérito sobre o desastre.

"Não detectamos nenhum problema de fiscalização ou supervisão na mina" de Soma, insistiu Huseyin Celik, vice- líder do partido do governo, dizendo que o local havia sido "inspecionado vigorosamente 11 vezes desde 2009."

"Não há nenhuma negligência. Nós temos trabalhado nesse caso com todo o nosso coração e alma. Eu nunca vi nada parecido em 20 anos", ele disse à Associated Press.

Seus comentários levantaram a questão, no entanto, de como a mina pode ter sido verificada tantas vezes e ainda assim ter uma explosão mortal. O ministro da Energia, Taner Yildiz, disse que qualquer caso de negligência envolvendo a verificação da mina será investigado e o responsável, punido.

Segundo o Ministério do Trabalho e da Segurança Social da Turquia, a inspeção mais recente nna mina ocorreu em março e nenhuma violação que arriscaria a segurança dos trabalhadores foi encontrada. Mas partido de oposição ao governo afirmou que o partido de Erdogan havia rejeitado proposta para realizar inquérito parlamentar sobre os vários acidentes de menor proporção em minas ao redor Soma.

"Acreditamos que há ao menos 18 homens no interior da mina", disse Yildiz aos repórteres. Segundo ele, o número baseia-se em relatos das famílias e dados divulgados anteriormente. "Temos 284 perdas, 18 irmãos no interior da mina e 77 milhões de pessoas sofrendo ", afirmou ele - os últimos números se referem a população turca.

Parentes em luto enterraram dezenas de seus mortos esta semana, enquanto cantarolavam e se lamentavam pela perda com fotos de seus entes queridos presos ao peito. Orações fúnebres estavam sendo realizadas em mesquitas por toda a Turquia. Erdogan participou de uma em Istambul.

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