
Rio - Manter contato com o transcendente e o sagrado faz bem à saúde. E, antes que os céticos virem a página do jornal, é a Ciência que diz isso. Rezar e alimentar bons sentimentos, como otimismo e perdão, podem reduzir o risco de doenças físicas e mentais, melhorar o sistema hormonal e aumentar a expectativa de vida. Além disso, pessoas com fé lidam melhor com o tratamento de enfermidades.
Mas como crer em ‘algo superior’ pode interferir no corpo? Com a palavra, um psiquiatra e um cardiologista que estudam o tema. “Rezar, meditar e ter experiências de ‘transe’ reduzem o estresse e melhoram a frequência cardíaca”, observa Alexander Moreira Almeida, psiquiatra e diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Estes benefícios, explicita o cardiologista Álvaro Avezum, se devem à queda de hormônios ligados ao estresse, como a noradrenalina. “Eles aumentam a pressão arterial, alteram a frequência cardíaca e podem levar à arritmia”, diz o médico, que é coordenador do Grupo de Estudos em Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“Outro estudo, inglês, mostrou que taxas de depressão e suicídio são três vezes menores entre os que têm expressão de espiritualidade”, acrescenta o psiquiatra. Estresse e depressão estão ligados ao infarto e ao AVC (derrame).
O cardiologista iniciará estudos para medir até que ponto ser mais solidário e nutrir bons sentimentos reduzem chances de adoecer. “Com o avanço das pesquisas, poderemos ‘receitar’ esse comportamento aos pacientes”, afirma Azevum. A SBC fará levantamento com 600 cardiologistas para avaliar o ‘nível de espiritualidade’ deles. Além disso, Azevum vai avaliar questões psicológicas, sociais e espirituais em pacientes do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo.
Para os que já estão doentes, o apoio encontrado entre pessoas da mesma religião melhora respostas ao tratamento. O otimismo também traz benefícios. “O pensamento de ser capaz de enfrentar problemas ajuda”, diz o psiquiatra. Há, porém, casos em que a fé pode atrapalhar. Segundo Alexander, isso ocorre quando o doente não se esforça para melhorar, e pensa que ‘Deus fará tudo’.
Paciente fica mais espiritualizado após situações graves
Sensação de sair do corpo, ver seres de luz e caminhar por um túnel sem volta. Para algumas pessoas, o limite entre a vida e a morte pode ser descrito. Isso acontece com as chamadas experiências de ‘Quase Morte’, que ocorrem em situações de grande risco, como paradas cardíacas, acidentes graves e afogamento, por exemplo.
Aos 5 anos, Karla Bravo, hoje com 38, sofreu um acidente. A arritmia cerebral decorrente da pancada na cabeça causou crises epiléticas. Numa delas, aos 9 anos, Karla ficou entre a vida e a morte, e passou pela experiência. “Cheguei a um lugar com portas de vidro, por onde pessoas de roupa clara circulavam. Um senhor se aproximou e cuidou de mim”, conta ela. Quando acordou, Karla não tinha mais a doença.
Espírita, ela garante que a experiência mudou sua vida e determinou sua fé. Segundo Alexander, independentemente da causa, os relatos dos pacientes são parecidos: não há diferença entre pessoas com e sem fé. “Percebemos que há mudança de vida após a experiência de ‘Quase Morte’. A pessoa fica mais altruísta e espiritualizada”, diz.