Rio - Forças de segurança curdas do Iraque assumiram o controle de uma base aérea e de outros postos da cidade petrolífera de Kirkuk nesta quinta-feira, dizendo que a medida foi necessária após as forças iraquianas terem abandonado o local perante o avanço de militantes sunitas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), que já controlam duas grandes cidades no país.
À Associated Press, o brigadeiro curdo Halogard Hikmat negou relatos anteriores de que toda a cidade de Kirkuk esteja sob controle dos peshmerga, como são conhecidas as forças do enclave etnicamente curdo localizado no norte do Iraque.
"Decidimos agir e controlar a base aérea e algumas posições perto dela porque não queremos que esses lugares que contêm armas caiam nas mãos dos insurgentes", disse Hikmat. Autoridades iraquianas não puderam ser contatadas para confirmar o relato.
O papel dos peshmerga pode ser um potencial ponto de fricção porque tanto os árabes sunitas quanto xiitas têm ressalvas em relação às reivindicações de território dos curdos fora de seu território autônomo.
Há anos, a região de Kirkuk é palco de embates entre iraquianos árabes (sunitas e xiitas) e curdos. Nos anos do regime de Saddam Hussein, os curdos foram expulsos da cidade, em um programa oficial de "arabização" de Kirkuk. O objetivo era manter os campos de petróleo da região sob controle do governo iraquiano. Para os curdos, Kirkuk é sua capital histórica.
Nesta quinta-feira, o sunita EIIL, grupo inspirado na Al-Qaeda, prometeu marchar sobre Bagdá, levantando temores sobre a habilidade do governo liderado por xiitas de desacelerar o avanço depois dos claros ganhos dos insurgentes. Por causa do avanço da milícia ao sul, chegando a cidades próximas a Bagdá, algumas a apenas uma hora de carro, xiitas na capital se preparam para uma potencial repetição do banho de sangue étnico e sectário que aconteceu entre 2006 e 2007.
A ameaça foi feita um dia depois de militantes do grupo terem assumido o controle de Tikrit, cidade natal do ex-ditador Saddam Hussein, enquanto os soldados e as forças de segurança abandonavam seus postos e cediam terreno antes controlado por forças americanas.
Os ganhos sobre Tikrit se seguiram à captura de boa parte de Mosul, a segunda maior cidade do Iraque, no dia anterior. Mosul é o mais importante centro da produção de petróleo, cimento, açúcar e produtos têxteis do país. Também é um ponto chave de comércio, por estar próximo da Síria e da Turquia. O EIIL e seus aliados entre homens tribais locais também controlaram a cidade de Fallujah e outros bolsões da Província de Anbar, dominada por sunitas, a oeste de Bagdá.
Estado de emergência adiado
O Parlamento iraquiano discutiu nesta quinta-feira um pedido feito pelo primeiro-ministro, Nouri Maliki, de decretar estado de emergência.
O premiê teria pedido poderes para impor toques de recolher, restringir a liberdade de movimento dos cidadãos e censurar a imprensa. No entanto, muitos analistas acreditam que ele não conta com o apoio dos dois terços do Parlamento necessários para aprovar a medida.
Nesta quinta-feira, o debate sobre o pedido de Maliki foi adiado por falta de quórum: apenas 128 dos 325 parlamentares estavam presentes para votação.
O governo dos Estados Unidos anunciou que está considerando a possibilidade de ajudar as tropas oficiais do Iraque a combater os grupos insurgentes.
O surpreendente avanço do EIIL, que busca construir um Estado islâmico baseado em princípios medievais sunitas na Síria e no Iraque, é a maior ameaça ao Iraque desde que as tropas dos EUA deixaram o país em 2011.
Centenas de milhares de pessoas deixaram suas casas com medo de que os militantes tomassem as principais cidades do vale do Tigre ao norte de Bagdá.