Por bferreira

Rio - De todas as pesquisas sobre câncer no mundo, uma parte muito pequena (1%) é feita na América Latina. E o baixo índice interfere no sucesso do tratamento dos pacientes de países da área, como o Brasil. Isso porque, segundo o médico colombiano Andrés Felipe Cardona, os remédios usados atualmente não foram feitos com base na genética dos habitantes da região.

“Tratamos o câncer com drogas que não foram feitas para a genética dos latinos”, disse Cardona, diretor científico da Rede Latino Americana de neuro-oncologia, ao site IG. Segundo ele, deste 1% , 60% são pesquisados no Brasil. Os outros 40% correspondem, sobretudo, a pesquisas clínicas feitas no México e na Argentina.

Estudos, tratamentos e medicamentos são ‘importados’ da Europa e dos Estados Unidos, e desenvolvidos com base na população desses locais. Porém, de acordo com o especialista, a genética dos tumores latinos é mais semelhante à dos asiáticos. Por exemplo, o câncer de pulmão no Brasil é mais parecido com a doença nos países do ocidente. Por isso, não é possível saber se com drogas americanas e europeias os pacientes terão o melhor resultado.

Cardona explica ainda que, no Brasil, entre os negros, tumores de mama são muito mais agressivos devido a um gene específico. “Esses genes também estão na população miscigenada. Por isso, o tumor de mama na população brasileira tem uma dominância maior para o tipo de câncer chamado triplonegativo, mais agressivo”.

Além do resultado do tratamento, a quimioterapia ‘sob medida’ para os brasileiros poderia resolver os efeitos colaterais do procedimento, segundo José Cláudio Casali, chefe do serviço de oncogenético do Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba. Ele explica que, nesse caso, poderia ser usada dose menor do medicamento, suficiente para ‘matar’ o tumor. “Hoje, usamos a maior dose que o paciente tolera”.

Entre os possíveis efeitos evitados estão danos ao coração e ao rim, perda de memória e até outros tipos de câncer que surgem após longo período de quimioterapia.

Diferenças regionais

A explicação para a diferença nos tumores é simples: se todas as pessoas são diferentes, nenhum tumor é igual. Casali lembra ainda que pesquisas sobre câncer baseadas na genética do brasileiro deveriam considerar também as diferenças regionais e a miscigenação. Casali esteve no Inca na década de 90 e percebeu que pessoas com o mesmo tumor respondiam ao tratamento de forma diferente. “Uma ficava curada e em outra o câncer voltava em um ano. Ali percebi que havia algo além”.

O especialista alerta que, além da parte genética, hábitos podem interferir no surgimento do tumor. “Mudanças de hábito podem modificar o gene. O problema é que comemos mal e fazemos menos exercício”.

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