Rio - Parentes deram adeus, nesta segunda-feira, ao jovem negro de 18 anos que foi baleado e morto por um policial, lembrando-o como uma "alma gentil" que cresceu em uma comunidade cristã e tinha a ambição de um dia ficar conhecido mundialmente. Milhares de pessoas encheram um templo batista em St. Louis para o funeral, que começou com música pontuada por aplausos.
Michael Brown foi assassinado no dia 9 de agosto por um policial branco. O crime conduziu a quase duas semanas de protestos pelas ruas de Ferguson, subúrbio de St. Louis, Missouri. O jovem estava desarmado quando foi baleado por Darren Wilson. Um grande júri reúne provas do caso e uma investigação federal também está em andamento.
De acordo com a polícia, uma briga eclodiu após Wilson mandar Brown e um amigo sair da rua e parar em uma calçada de Ferguson, subúrbio de St. Louis. A polícia diz que Wilson foi empurrado para a sua viatura e agredido fisicamente. Testemunhas relatam, porém, ter visto Brown com os braços para o ar - ato de rendição. Autópsia descobriu que o jovem foi baleado pelo menos seis vezes.
Eric Davis, um dos primos do adolescente, pediu para a multidão que acompanhava o funeral para irem às urnas e exigirem mudança, dizendo que a comunidade tem tido "um número grande de mortes sem sentido."
O tio de Brown, Bernard Ewing, descreveu Brown como um "cara grande, mas com uma alma gentil". Ele lembrou que o sobrinho disse à família que um dia seu nome seria conhecido por todo o mundo.
"Ele não sabia que ele estava fazendo uma profecia divina naquele momento", disse Ewing. O presidente Barack Obama enviou três assessores da Casa Branca para o funeral.
O primeiro presidente negro dos EUA tentou encontrar um tom equilibrado sobre os tiros, apelando para uma reflexão sobre a situação dos jovens negros no país que se sentem injustiçados sob a aplicação da lei.
Entre as pessoas de luto pela morte do jovem estava Will Acklin, um homem negro que viajou de Arkansas apenas para acompanhar o funeral.
"Quando eu era criança era empurrado pela polícia, maltratado pela polícia, amaldiçoado pela polícia. E sempre fui um bom garoto", disse Acklin, 63. "Eu era um excelente estudante. Quando ouvi isso [o crime contra Brown], senti a necessidade de vir aqui e mostrar meu respeito".
Santuário da igreja, com capacidade para cerca de 2.500, encheu rapidamente. Com a igreja lotada, muitos tiveram de acompanhar as homenagens do lado de fora, lotando áreas que tinham sombra em um dia em que a temperatura chegou a 37°C.
Posters com fotos de Brown usando fones de ouvido estavam de ambos os lados do caixão lacrado, com boné do time de beisebol St. Louis Cardinals sobre ele. Grandes telas de projeção mostravam fotos de Brown segurando diploma do ensino médio enquanto usava boné e beca. Ele começaria a treinar em uma escola técnica dois dias após sua morte e pensava em se tornar técnico de aquecedores e ar-condicionados.
O pai de Brown, Michael Brown Jr., pediu aos manifestantes que fizessem uma pausa nesta segunda e mantivessem um "dia de silêncio" para que a família pudesse sofrer em paz.
No início da manhã desta segunda, o pedido de Brown pareceu ter prevalecido. Em frente ao Departamento de Polícia de Ferguson, um grupo pequeno, mas constante de ativistas, fizeram vigília com cartaz feito à mão anunciando "pausa para o funeral."