Por karilayn.areias

Rio - Imagine ir a um hospital para tratar um distúrbio gastrointestinal e acabar sofrendo uma crise de inquietação motora, que gera tremores nas pernas, vontade de correr e muita angústia. A chamada ‘reação extrapiramidal’ é um dos efeitos colaterais mais graves de medicamentos à base de metoclopramida, como o Plasil. E a possibilidade de o problema ocorrer costuma ser negligenciada por alguns médicos em emergências de hospitais, alerta o coordenador do Laboratório de Toxicologia da Escola Nacional de Saúde Pública, Francisco Paumgartten.

O remédio é bastante utilizado em emergências de hospitais%2C por via intravenosa%3A é preciso atenção para a dosagem%2C que pode ser elevadaIstock

A situação ocorreu com a assessora de imprensa Veronica Marques, que na semana passada sofreu a reação ao receber remédios intravenosos para tratamento de gastroenterite aguda. “Foi a maior angústia da minha vida. Eu não conseguia parar quieta, roí todas as minhas unhas. Sentia tremores pelo corpo, fiquei muito agitada e a necessidade de correr uma maratona não me saía da cabeça”, relembra.

Segundo Paumgartten, a pressa dos médicos em solucionar o problema inicial do paciente é o principal responsável pelo desencadeamento da reação extrapiramidal. “Em pronto-socorro é muito comum que o paciente receba doses elevadas da medicação na veia para acelerar a recuperação, mas isso também potencializa os efeitos colaterais”, aponta o toxicologista. “Atendimento em emergência é precário e, muitas vezes, o médico sequer fica na sala enquanto o paciente está sendo tratado por enfermeiras”, completa.

A reação se dá porque a metoclopramida bloqueia os receptores do sistema nervoso central responsáveis pelo controle do tônus muscular, causando inquietação motora. “Os sintomas são semelhantes aos do Mal de Parkinson”, diz Paumgartten.

De acordo com o médico, crianças e idosos são mais suscetíveis aos efeitos do Plasil e devem evitá-lo. “Portadores de Parkinson e aqueles que têm predisposição genética para a doença também têm de tomar mais cuidado”, afirma o especialista.

Para reverter os efeitos da reação, o toxicologista indica a interrupção imediata da medicação. Caso ela se mantenha, a prometazina, substância do Fenergan, cessa os sintomas. Paumgartten também salienta que o quadro extrapiramidal não causa mal de Parkinson. “Portadores são afetados, mas o remédio não leva à doença de forma alguma”, garante o médico.

Cuidado com o consumo doméstico

Além de aparecer quando o remédio é ministrado por injeção na veia, a reação extrapiramidal também pode ocorrer após uso por via oral. Por isso, o toxicologista Francisco Paumgartten alerta para os riscos da automedicação.

“A metoclopramida só é vendida com prescrição médica, mas muita gente estoca o remédio em casa. Isso facilita a intoxicação de crianças e pode ser muito perigoso”, diz ele, que defende a venda fracionada de medicamentos para obrigar que o paciente obtenha apenas a quantidade recomendada pelo médico durante o tratamento.

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