Por tamara.coimbra
França - A edição do Charlie Hebdo após o atentado terrorista já estava esgotada antes do amanhecer nos arredores de Paris nesta quarta-feira com direito a brigas em quiosques devido a redução do número de cópias do jornal que traz o profeta Maomé na capa.
Na cidade ainda abalada pelas 17 mortes provocadas por extremistas islâmicos, uma história em quadrinhos controversa que supostamente elogiava os jihadistas foi levada sob custódia da polícia.
Franceses fazem fila para a nova edição do Charlie HebdoReuters

O núcleo da equipe da edição irreverente pereceu na semana passada, quando homens armados invadiram o escritório da Charlie deixando 12 mortos. Os que sobreviveram deram sequência ao trabalho do jornal por meio de escritórios emprestados e uma tiragem de 3 milhões — mais de 50 vezes a circulação habitual.

O ataque do jornal foi o pontapé inicial de três dias de terror e derramamento de sangue na região de Paris, que terminou somente quando forças de segurança mataram três homens armados na última sexta-feira.

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Na maior parte das bancas do centro de Paris, os exemplares do Charlie Hebdo esgotaram antes das 8h (5h em Brasília) e dois funcionários disseram que "em poucos minutos" venderam todos os jornais. Em vários pontos de venda na capital francesa, dezenas de pessoas formaram filas para comprar o semanário e acabavam por dispersar à medida que era anunciado que os exemplares tinham esgotado.
Superação

A edição desta quarta-feira do semanário satírico francês saiu em mais de 20 países, com versões em cinco línguas, incluindo o árabe e o turco. A edição é traduzida em inglês, espanhol e árabe, na versão digital, e em italiano e turco, na versão em papel.

O aumento da tiragem deve-se ao fato de a distribuidora MLP (Messageries Lyonnaises de Presse) ter recebido grandes encomendas, não só da França mas também de outros países, depois do atentado de quarta-feira passada à redação do jornal.

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As edições anteriores do Charlie Hebdo tinham tiragem de 60 mil exemplares, metade dos quais era vendida em bancas. A edição desta quarta-feira, preparada pelos sobreviventes do ataque terrorista, traz na capa uma caricatura de Maomé, com lágrima no olho, segurando um papel com a frase "Je suis Charlie", e o título "Tudo está perdoado".
A frase "Je suis Charlie" foi utilizada por milhões de pessoas que se manifestaram em defesa da liberdade de expressão. Os escritórios do semanário no centro de Paris foram atacados na quarta-feira pelos irmãos Said e Cherif Kouachi.
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Demanda amplia para 5 milhões o número de tiragem do jornal

A demanda acima do esperado pela primeira edição do jornal de sátira política Charlie Hebdo após o ataque de semana passada em Paris fez com que a já recorde tiragem da publicação fosse ampliada de três para cinco milhões de exemplares, número mais de 80 vezes maior que a circulação normal de 60 mil.

Edição desta quarta-feira do jornal Charlie HebdoReuters

Segundo relatos da mídia francesa, os exemplares disponíveis no país se esgotaram numa questão de minutos. Desde a madrugada, longas filas se formaram em frente a bancas de jornais em busca de um exemplar. Ainda estava escuro em Paris quando muitas bancas exibiam cartazes dizendo "Não temos a Charlie Hebdo".

Diversas cópias apareceram no site de vendas eBay e algumas tinham atingido a casa de R$ 3 mil — o preço de capa normalmente é cerca de R$ 10.
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Na quarta-feira passada, dois atiradores invadiram o escritório da Charlie Hebdo e mataram 12 pessoas, incluindo dois policiais. Os irmãos Cherif e Said Kouachi, mortos pela polícia dois dias mais tarde, foram motivados pelas polêmicas charges do profeta Maomé feitas pela revista — quatro cartunistas, incluindo o renomado Wolinski, também morreram.
Poliglota
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A demanda pela edição foi impulsionada não apenas pelo choque provocado na França e no resto do mundo pelos ataques, mas também pelo fato de que o dinheiro das vendas será repassado às famílias das vítimas.
Embora a revista tenha colocado na capa uma charge de Maomé chorando, com a frase "Todos serão perdoados", não há outras representações do profeta no interior da revista. No entanto, há várias sátiras a extremistas muçulmanos.
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Numa das charges, dois homens chegam ao céu perguntando por virgens (segundo uma intepretação do Corão, o livro sagrado muçulmano, jihadistas são "presenteados" com 72 virgens quando chegam ao paraíso) enquanto os cartunistas mortos estão participando de uma orgia.
Diante do interesse provocado pela revista depois do atentado, a edição especial circulará em seis línguas, incluindo inglês, árabe e turco.
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"Estamos felizes por termos conseguido (levar à edição às bancas). Foi complicado pensar na capa, pois precisávamos expressar algo novo. Tinha de ser algo relacionado com o que passamos", disse o editor-chefe da Charlie Hebdo, Gerard Biard.
Os ataques de semana passada levaram as autoridades francesas a reforçar a segurança nas ruas do país, incluindo o uso de mais de 10 mil soldados
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A capa da revista foi divulgada antecipadamente e diversos veículos internacionais a reproduziram, incluindo o jornal turcoCumhuriyet e alguns veículos no Oriente Médio.
A decisão de publicar uma nova charge de Maomé já gerou novas ameaças à Charlie Hebdo. E uma outra publicação satírica francesa, o semanário Le Canard Enchaine, disse ter recebido ameaças de extremistas muçulmanos.
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Em meio às manifestações de solidariedade às vítimas do ataque à Charlie Hebdo, surgiu a polêmica do comediante Dieudonné M'Bala M'Bala. Ele foi preso nesta terça-feira sob a acusação de apologia ao terrorismo depois de ironizar o slogan "Je Suis Charlie" ("Eu Sou Charlie, em francês) num comentário em sua conta no twitter.
"Eu sou Charlie Coulibaly", escreveu Dieudonné, numa alusão ao sobre nome de Ahmedy Coulibaly, que na semana passada matou um policial e quatro pessoas em dois atentados em Paris, aparentemente agindo de forma coordenada com os irmãos Kouachi.