Por bferreira

Rio - Quem teria coragem de cortar a cabeça e implantá-la num novo corpo por uma chance mínima de sobreviver? O russo Valery Spiridonov, 30 anos, cientista da área de computação, garante que tem. Sofrendo de uma doença degenerativa rara, ele pretende ser o primeiro ser humano a passar por um transplante de cabeça. A cirurgia deve ser feita em 2016 utilizando o método inovador e controverso do médico italiano Sergio Canavero.

Valery%2C cientista da área de computação%2C será o primeiro paciente da técnica de transplante de cabeçaDivulgação

A bravura de Valery vem da sua curta expectativa de vida. Portador da Doença de Werdnig-Hoffman, mal que gera atrofia muscular grave e compromete a sustentação do corpo, ele vê suas forças se reduzirem a cada ano. “Claro que estou com medo, mas não tenho muitas chances. Se eu não tentar nada, meu destino será triste”, disse ele, em entrevista ao jornal inglês ‘Daily Mail’.

Ainda sem data confirmada — a expectativa é para o ano que vem — e precisando arrecadar o equivalente a R$ 35 milhões para bancar equipe de 150 profissionais, o projeto de Canavero já gera polêmica entre neurocirurgiões. “Isso não pode ser permitido. Há coisas muito piores do que a morte”, afirma Hunt Batjer, presidente da Associação Norte-Americana de Neurocirurgiões.

CABEÇAS CORTADAS JUNTAS

O método criado pelo italiano prevê que sejam cortadas ao mesmo tempo as cabeças de Valery e do doador, que terá de ser um homem saudável com morte cerebral constatada. Depois, a medula espinhal do russo vai ser “colada” ao novo corpo. Músculos e vasos sanguíneos serão costurados. Na sequência, Valery permanecerá em coma induzido por quatro semanas, para evitar que mexa o pescoço durante o processo de cicatrização. Ao acordar, a expectativa é que possa andar e falar normalmente de imediato.

Os riscos evidentes da operação, que deve demorar 36 horas, não fazem o russo recuar da sua ideia. Para ele, a cirurgia, mesmo se mal-sucedida, fará bem para a ciência. “Vou fazer isso porque as coisas só evoluem quando se está pronto para assumir riscos”, decreta Valery.

Há dois anos em contato com Canavero, o russo garante que os dois nunca discutiram a possibilidade de o procedimento dar errado. “Eu me voluntariei por confiar no sucesso da operação. Se não tivesse chance de sair vivo, jamais tentaria”, aponta.

“Se eu não tentar, o meu destino será triste”

“Minha decisão está tomada e não vou mudar de ideia. Se tenho medo? Claro que sim. Mas não tenho muitas chances. Se eu não tentar, meu destino será triste.

A cada ano, meu estado piora. Mal consigo controlar meu corpo e preciso de ajuda para tudo. Meus músculos pararam de se desenvolver na infância. Meu esqueleto ficou deformado, pois os músculos das costas não conseguem suportá-lo.

Eu entendo os muitos riscos da cirurgia e não posso nem imaginar o que pode dar errado. Porém, depois de todo o esforço que investi nessa ideia, voltar atrás não é uma opção.

Quando mandaram astronautas para a Lua também pensaram que daria errado. Farei isso pois as coisas só evoluem quando se está pronto para assumir riscos.”

VALERY SPIRIDONOV, russo, 30 anos

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