Por bferreira

Rio - Cerca de dois milhões de brasileiros têm a doença celíaca, causada por intolerância ao glúten, mas muitos não sabem. Esta situação acontece porque o diagnóstico do problema é difícil: pode ser confundido com doenças do intestino ou relacionadas à carência de nutrientes. Os sintomas mais frequentes são diarreia, excesso de gases e desconforto abdominal, além de fadiga e dor de cabeça. Nas mulheres, pode haver irregularidades menstruais.

Alguns dos alimentos que geralmente contêm glúten são massas como pão%2C bolo%2C biscoito e macarrãoiStockphoto

“Muitas vezes, os sintomas não são específicos e as queixas digestivas não são muito exuberantes”, avalia o gastroenterologista Luiz João Abrahão Jr. A enfermidade é autoimune, ou seja, causada pelas próprias células de defesa do organismo, que agridem outras e provocam inflamação. O glúten — proteína presente no trigo, no centeio e na cevada, entre outros alimentos — é responsável por este processo. Também existe uma pré-disposição genética.

A nutricionista Noádia Lobão explica que o glúten atrapalha a capacidade do intestino em absorver nutrientes, o que acaba gerando outras deficiências.

A doença celíaca costuma surgir na infância, mas também pode aparecer na idade adulta. Para o diagnostico é necessário, além do exame de sangue, um procedimento chamado endoscopia digestiva com biópsia de duodeno, em que um instrumento é inserido no estômago, através da boca, para colher amostras. “O tratamento principal é a extinção total do glúten”, explica Noádia. Alguns dos alimentos que geralmente contêm glúten são pão, bolo, biscoito e macarrão.

Mas os pacientes não devem fazer a dieta por conta própria, sem orientação profissional. “O maior desafio em fazer o diagnóstico ocorre quando os próprios pacientes, na suspeita da doença, retiram o glúten da dieta”, critica o médico. Essa decisão pode atrapalhar o resultado dos exames e, por isso só deve ser tomada com a orientação de especialista.

Segundo Noádia, o grande problema enfrentado pelos portadores da doença celíaca são os resíduos do glúten que podem passar de um alimento para outros, por meio de instrumentos de cozinha, por exemplo. É a chamada ‘contaminação cruzada’. “O ideal é fazer as refeições em casa”, recomenda.

A nutricionista ressalta que pessoas sem a doença não devem eliminar o glúten só para emagrecer. Ela também diferencia a doença celíaca da sensibilidade ao glúten. Nesta, que afeta 14 milhões de brasileiros, os efeitos são mais brandos.

Sofrimento antes do alívio

Para a assistente administrativa Simone Prates, os sinais apareceram na infância, mas cresceram na fase adulta. “Eu tive os sintomas clássicos. Diarreia, aftas, imunidade baixa, transtorno de menstruação. Mas ninguém prestou atenção nisso”, relata. A situação piorou quando ela teve uma diarreia mais forte que o normal, que durou três meses. Simone procurou ajuda, mas recebeu série de diagnósticos errados.

“Falaram em Aids, dengue, estresse... Por fim, me internaram achando que era câncer de pâncreas”, conta. Logo antes de começar o tratamento, no entanto, novos exames indicaram a doença celíaca. A adaptação à nova dieta passou por várias fases. “No começo foi fácil porque eu queria melhorar logo. Mas depois vem a fase da rebeldia”. Ela percebeu o perigo, no entanto, e voltou a seguir as orientações. “Agora sou fiel. Estou consciente dos malefícios”, garante.

Hoje Simone participa da Associação do Celíacos do Brasil, onde é segunda secretária da seção do Rio. A entidade faz campanhas para conscientizar sobre a enfermidade e a necessidade de disponibilizar produtos e cardápios exclusivos para quem precisar.

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