Rio - Seja entre familiares, amigos ou colegas de trabalho, não é difícil encontrar quem já tenha passado por explosões de raiva, tristeza, ciúmes intensos, dependência afetiva e descontrole emocional. Entretanto, quando alguém manifesta estes comportamentos de forma frequente e por um longo período de tempo, é possível que sofra do Transtorno de Personalidade Borderline.
O assunto ficou mais conhecido a partir do ano passado, quando a atriz Débora Fallabela interpretou uma vítima da doença na minissérie ‘Dupla Identidade’. Frequentemente confundida com esquizofrenia ou transtorno bipolar, a Síndrome Borderline faz com que o portador viva no limite de suas emoções, causando grande dificuldade de convívio interpessoal. O que a diferencia das outras doenças é a duração e a intensidade das emoções. É o que explica o psicoterapeuta Erlei Sassi, especialista em transtornos de personalidade pela Faculdade de Medicina da USP. “Os sintomas começam a se intensificar entre o fim da adolescência e o começo da vida adulta, e viram um comportamento persistente.”
Segundo o psiquiatra, as relações afetivas dos portadores do transtorno tendem a ser muito instáveis. “O Borderline costuma sentir muito medo de ser abandonado. Por isso, suas relações são marcadas por brigas, ciúmes e separações. São pessoas que amam com muita intensidade também. O tipo que faz um escândalo em um restaurante porque o parceiro atendeu o telefone, mas depois chora arrependido”, exemplificou. Sassi esclarece que a instabilidade não se aplica só aos relacionamentos amorosos. “O transtorno causa problemas no trabalho, porque o paciente não se sente satisfeito com nada, fica muito entediado e discute com facilidade.”
Segundo o especialista, é natural que o paciente melhore com 30, 40 anos, se não houver tratamento. “O problema é que, até lá, ele já brigou com o chefe, terminou os relacionamentos e está sozinho. É essencial que a pessoa tenha consciência do quadro. É como se estivéssemos dizendo que ela está doente porque quer. O Borderline tem uma percepção muito parcial e emotiva das situações”, afirmou Sassi.
Terapia e remédios para ansiedade aliviam sintomas
“Meu casamento acabou devido ao meu autoritarismo e meus dois filhos já criticaram meu comportamento. Não controlava minhas emoções. Saía quebrando tudo em um impulso de raiva e depois chorava, arrependida”, relembra a professora Márcia Reis, de 43 anos. Antes de ser diagnosticada com Transtorno de Borderline, ela foi indicada para tratamentos contra depressão, bipolaridade e hiperatividade. Nenhum surtiu efeito.
“Não fazia ideia do que causava nas pessoas. Conviver conosco é ir do céu ao inferno em alguns minutos. Hoje, tomo apenas um medicamento para estabilizar o humor e faço terapia. Busco ter o controle dos meus sentimentos, ocupar meu tempo e gostar de mim mesma. Ser border é uma luta diária, mas o primeiro passo é procurar e aceitar ajuda”, avalia.
O psicoterapeuta Erlei Sassi explica que o tratamento é à base de remédios para ansiedade e terapia. No Rio, há tratamento gratuito no ambulatório do Instituto de Psiquiatria da UFRJ e no hospital psiquiátrico Instituto Philippe Pinel, ambos na Praia Vermelha, na Zona Sul. Na Sociedade Brasileira de Psicanálise, no Humaitá, pode-se agendar entrevista e combinar o preço com o terapeuta.
Reportagem da estagiária Clara Vieira