Por clarissa.sardenberg
Síria  - O pai de Aylan Kurdi, menino sírio que virou símbolo da pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, chamou a charge publicada pelo jornal francês "Charlie Hebdo" na semana passada de "inumana e imoral". "Hoje eu estou mais triste do que quando o perdi", declarou Abdullah Kurdi, citado por veículos de imprensa curdos.
'Hoje eu estou mais triste do que quando o perdi', declarou Abdullah Kurdi após charge com o filhoReuters

Segundo Kurdi, a vinheta é comparável aos atos dos "terroristas e criminosos de guerra que assassinam pessoas inocentes ou as obrigam a deixar o próprio país".

A charge do "Charlie Hebdo", assinada pelo cartunista Riss, mostra dois homens com rostos de animais (um de macaco e outro de porco) correndo atrás de mulheres. "No que teria se transformado o pequeno Aylan se ele tivesse crescido?", é o texto que acompanha a ilustração.

'No que teria se transformado o pequeno Aylan se ele tivesse crescido%3F'%2C publicou Charlie HebdoReprodução Internet

 O desenho faz referência aos recentes casos de agressões sexuais em Colônia, na Alemanha, que teria envolvido diversos solicitantes de refúgio. Essa não é a primeira vez que o jornal satírico usa a tragédia do menino sírio em sua capa. Em setembro passado, logo após a morte de Aylan, a publicação estampou uma charge que mostrava o corpo do garoto na praia e um outdoor do McDonald's que dizia: "Promoção: dois menus infantis pelo preço de um". Ao lado, foi colocada a frase "Tão perto do objetivo...".

Em outro desenho publicado na mesma edição, um homem que lembra Jesus Cristo afirma: "Os cristãos marcham sobre as águas". Já o menino, apenas com as pernas para fora do mar, responde: "As crianças muçulmanas afundam". As duas sátiras também são de autoria de Riss, um dos sobreviventes do atentado que matou 12 pessoas na redação do jornal há um ano.

Aylan Kurdi, de apenas três anos, foi encontrado sem vida em uma praia de Bodrum, na Turquia, após o barco em que estava com a família ter naufragado enquanto tentava chegar à Grécia. Junto com o menino, morreram seu irmão mais velho e sua mãe. Apenas o pai sobreviveu.