Por clarissa.sardenberg
Iraque - Um menino soldado de 12 anos contou como "voltou à vida" depois de escapar do Estado Islâmico em Raqqa, na Síria. Em entrevista à "CNN", a criança com nome fictício Nasir revelou que era treinada para ser homem-bomba em um grupo de 60 meninos, dos quais outros quatro conseguiram escapar. Os terroristas diziam que os amavam, eram sua família e os chamavam de "filhotes do califado". O EI vem ficando conhecido por usar crianças em ações — na última semana, por exemplo, foi divulgada uma propaganda com uma falando em inglês.

"No treinamento, eles diziam que nossos pais eram infiéis e que nosso primeiro trabalho seria voltar para matá-los", revelou o menino. Nasir reencontrou a mãe em um campo de refugiados no Curdistão, onde cerca de 15 mil pessoas da minoria Yazidi se abrigam do EI. As crianças são tiradas dos pais à força e levadas para campos de treinamento.

Estado Islâmico treinando crianças na Síria Reprodução Internet

Ele contou que apanhava constantemente e chorar era proibido. "Eu pensava na minha mãe, nela se preocupando comigo e tentava chorar sem fazer barulho. Quando escapamos e consegui ver minha mãe foi como se estive voltando à vida", falou emocionado.

"A época mais assustadora foi quando os bombardeios começaram a acontecer. Eles nos escondiam em túneis. Diziam que os americanos eram infiéis que iam matar a todos nós, mas que eles, os combatentes, nos amavam, e tomariam conta de nós melhor do que nossos pais", revelou Nasir.

Matar ou morrer
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No campo, alguns tentam oferecer ajuda psicológica a crianças como Nasir e contam que elas ficaram tão traumatizadas que não podem nem sequer ouvir o nome do grupo. "Quando eles chegam aqui, estão tão magrinhos que mal parecem humanos", afirmou o militante curdo Aziz Abdullah Hadur, acrescentando que poucos conseguem chegar com vida ao norte do Iraque.
O combatente revelou que muitas vezes é necessário matar crianças na linha de frente da guerra que se instalou no local. "Quando enfrentamos o Estado Islâmico, muitas vezes vemos crianças usando explosivos. Eles sofrem uma lavagem cerebral", disse. "Quando elas entram em nosso território, nunca sabemos se estão fugindo ou se foram enviadas para nos matar. É uma decisão inacreditavelmente difícil. Você não sabe o que fazer porque se não matá-los eles vão matar você", falou Hadur.
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Os yazidis são perseguidos pelo Estado Islâmico por terem crenças diferentes das suas. Eles são rotulados como "adoradores do diabo" e tradicionalmente vivem em pequenas comunidades nas montanhas do Iraque e Síria. A minoria foi terrivelmente perseguida e sitiada pelos terroristas em 2015.