Por lucas.cardoso
São Paulo - Na semana seguinte ao Brasil atingir a marca de 4 mil casos de microcefalia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou estado de emergência internacional por conta da alta incidência da malformação em bebês e à forte suspeita de sua ligação com o grande número de casos do Zika vírus na América Latina e Caribe. Com o anúncio, feito ontem, a expectativa é de que os países sejam beneficiados com recursos para pesquisas, incluindo o desenvolvimento de vacinas.
Em nota, o Ministério da Saúde destacou que a recomendação não prevê “restrição de viagens ou comércio com países, regiões e/ou territórios com a transmissão do vírus Zika”. O órgão recomenda, principalmente a grávidas e mulheres em idade fértil, “medidas simples que possam evitar o contato com o Aedes aegypti, como utilizar repelentes, proteger-se da exposição de mosquitos, manter portas e janelas fechadas ou teladas e usar calça e camisa de manga comprida.”
OMS declara emergência mundial por microcefaliaArte O Dia

No Rio, o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Alexandre Chieppe, enfatizou que o anúncio tem características diferentes de outros alertas da OMS, como o do ebola, em 2014. “A grande preocupação é a associação à microcefalia, enquanto no caso do ebola, era a alta taxa de mortalidade”, explicou.

Segundo ele, o estado de emergência auxiliará no combate à dengue e febre chikungunya, também causadas pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti, porém, com mais alta letalidade.

Apesar de a medida focar a relação entre o zika vírus e a microcefalia, o infectologista e diretor geral da Faculdade de Medicina de Petrópolis, Paulo César Guimarães, alerta para outras síndromes neurológicas, como a Síndrome de Guillian-Barré, também desenvolvida em pacientes de zika. “Não pode ser desprezada a gravidade da síndrome, já que ela afeta a estrutura do neurônio e pode causar deficiência e até óbito”.

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O alerta da OMS foi emitido após teleconferência com cientistas. A mesma classificação ocorreu nos últimos anos com a gripe H1N1, a pólio e o ebola. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), entre 3 milhões e 4 milhões de pessoas poderiam ser contaminadas pelo zika vírus em 2016 nas Américas, sendo 1,5 milhão no Brasil.
Amanhã a presidente Dilma Rousseff deve fazer um pronunciamento oficial sobre a questão. Desde ontem, por medida provisória, fica autorizada a entrada forçada das equipes de endemias em imóveis públicos ou particulares abandonados em todo o país, para localizar focos do mosquito. No Rio, a medida é tomada desde 2015.
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Agentes de endemias voltam a ameaçar greve no país
Às vésperas so Carnaval, uma ameaça de greve dos agentes de saúde de combate as endemias também tornou-se um desafio em meio às ações intensificadas de combate ao mosquito. “Vamos sair em passeata na quinta-feira, se não tivermos uma resposta do Ministério da Saúde. A ideia é iniciar greve de 7 mil funcionários já na sexta-feira, até que se cumpram nossas exigências”, disse o secretário geral do sindicato da categoria, Sandro Alex de Oliveira. Os agentes de endemias querem fornecimento de insumos para realização das operações, como inseticida, boletim diário e carros, além de itens de segurança como uniforme, repelente e protetor solar.
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A ação das Forças Armadas em áreas de risco e urbanas para erradicação dos focos do mosquito será feita de 15 a 19 de fevereiro. No Rio, estão previstas mais entradas compulsórias, já que, segundo o protocolo, expirou os prazos das duas notificações, de 15 dias cada um, necessárias para abrir os locais para inspeção. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, no ano, já foram feitas 15 entradas compulsórias. Enquanto em 2015, o total foi de 61 sem o consentimento do proprietário e 34, com após o anúncio da ação no Diário Oficial.
A prefeitura iniciou ontem também multirões no Centro e Zona Sul para informar a população além de checar denúncias de possíveis criadouros. E ajudou Judevan Barreiro, de 43 anos, a explicar à filha Lara, de 10, que não pode acumular água parada. Com auxílio de uma maquete, deu exemplo. “Filhos são espelhos dos pais. Quero fazer minha parte também para próxima geração”, disse.
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A ABIH-RJ informou que “até o momento não houve impacto direto para a atividade hoteleira, já que não foram registrados cancelamentos ou adiamentos com esta motivação”.