Por thiago.antunes

Rio - A sabedoria popular não se engana quando diz que “tempo é dinheiro”. Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) comprova a tese e mostra que, no ano passado, o custo dos congestionamentos na cidade foi de R$ 27,2 bilhões, com média de 123 quilômetros por dia. Com este dinheiro seria possível construir três vezes a Linha 4 do MetrôRio e ainda sobrava troco (o projeto que liga Ipanema à Barra da da Tijuca custa R$ 8,5 bilhões).

Atualmente, cada minuto que o carioca perde no trânsito equivale a R$ 0,51. Os números levam em conta apenas o “tempo econômico” que é perdido. Ou seja, a remuneração média do trabalhador local por minuto que ele passa no engarrafamento.

Rio perde bilhões com engarrafamentosPaulo Alvadia / Agência O Dia

“Todo mundo perde. Porque fica tudo mais caro. As indústrias sabem que uma carga pode atrasar e as transportadoras cobram mais caro para entregar. O resultado é que a mercadoria vai custar mais. Aí, ela vende menos e recolhe menos impostos. É um efeito cascata”, disse o especialista em competitividade industrial da Firjan, Riley Rodrigues de Oliveira.

Como tudo que é ruim pode ainda piorar, a previsão é de que, em 2013, considerado pelas autoridades o pior ano do trânsito no Rio, os engarrafamentos cheguem a 130 quilômetros por dia e consumam R$ 29 bilhões. Porém, depois da tempestade vem a bonança. Com os investimentos em mobilidade urbana previstos, esse total deve cair em 2016 para R$ 26,6 bilhões ao ano, com congestionamento diário médio de 120 quilômetros. O estudo só considera as obras que já têm aporte financeiro garantido ou já foram iniciadas como a construção da Linha 4 do MetrôRio, os quatro corredores do BRT e o VLT (veículo leve sobre trilhos).

“Somos totalmente a favor das obras. Mas só isso não vai resolver por muito tempo. Ano que vem a coisa vai melhorar um pouco, mas, mesmo com as obras terminadas, em 2017 já teremos uma situação muito semelhante a de hoje, com engarrafamentos diários de 129 km por dia”, estimou, lembrando que, “o pobre, que mora mais longe do trabalho, é o que paga maior parte desta conta.”

Engarrafamento e confusão em primeiro dia de mudanças no trânsito na Praça da BandeiraAndré Luiz Mello / Agência O Dia

Perda pagaria principais projetos de transportes na cidade até 2016

Com os R$ 27,2 bilhões que viraram fumaça nos engarrafamentos no ano passado, seria possível pagar os principais projetos de mobilidade urbana previstos para o Rio de Janeiro até 2016. E ainda sobrariam R$ 9 bilhões. Afinal, juntos eles são da ordem de R$ 18 bilhões.

Os BRTs demandam investimentos da ordem de R$ 6 bilhões (Transbrasil - R$ 1,13 bi; Transolímpico - R$ 2,3 bi; Transoeste - R$ 770 milhões e Transcarioca - R$ 1,8 bi). Já os dois projetos para metrô (linhas 3 e 4) exigem aporte de R$ 11 bilhões. A linha 3 custa R$ 2,5 bi e terá 22 quilômetros de extensão, ligando as cidades de Niterói e São Gonçalo.

Já a linha 4 ligará a zona Sul do Rio à Barra da Tijuca e custará R$ 8,5 bi. E, finalmente, o VLT que circulará pelo centro e região portuária tem custo avaliado em R$ 1,1 bilhão. “Estas obras são fundamentais e urgentes, mas não serão capazes de resolver o problema”, disse o especialista da Firjan Riley Rodrigues.

Solução passa por reorganização urbana

Se as intervenções anunciadas não passam de paliativos, o que fazer para evitar os engarrafamentos? A Firjan destaca ser fundamental que os governos dêem incentivos fiscais para reorganizar a distribuição da cidade. A ideia é levar emprego para outras áreas e assim diminuir a concentração de pessoas circulando no Centro e na Zona Sul. Os números mostram que, atualmente, 60% do fluxo da Região Metropolitana do Rio tem origem/destino (ou ambos) na capital.

Vias expressas, como a Linha Vermelha, também registram retençõesSeverino Silva / Agência O Dia

“Tem que mudar a forma de pensar. E ainda fazer muita obra. Por exemplo, hoje, a Via Light liga o nada a lugar nenhum. Ela precisa chegar até a avenida Brasil e depois ao Parque Madureira. Isso desafogaria em 40% o trânsito da via Dutra. Outra coisa urgente é construir nova ligação entre Rio e Niterói, de preferência um metrô sob a Baía de Guanabara”, disse o técnico da Firjan, Riley Oliveira, acrescentando que os trens da SuperVia precisam chegar até Itaguaí, área que está em crescimento acelerado.

Oliveira ressaltou também a necessidade de se investir mais em transporte aquaviário. “Não é uma questão de querer ou não. É uma obrigação dos governos. No mais é incentivar o uso de transporte de massa e não o de carros”, concluiu.

Frota de carros cresce 64% em 12 anos

A realidade não é nada boa. Nos últimos 12 anos, a frota de carros particulares no Rio de Janeiro cresceu 64%. Hoje, temos um veículo para cada 2,4 habitantes. E uma frota de 2,7 milhões de possantes. No mesmo período, a população aumentou apenas 10%, terminando o ano passado com 6,4 milhões de habitantes. Ou seja, “nasceram” mais carros do que pessoas.

Para ter uma ideia do que isso representa, se existisse um estacionamento capaz de abrigar todos os veículos motorizados do Rio, ele ocuparia 57 km² de área (considerando espaço de 50cm entre os veículos). Em termos comparativos, transformaríamos em garagem os bairros de Botafogo, Flamengo, Laranjeiras, Copacabana, Ipanema, Lagoa, Gávea, São Conrado, Leblon, Jardim Botânico, Cosme Velho, Catete, Leme, Rocinha, Urca, Humaitá, Vidigal, Catumbi, Santa Teresa, Centro, Saúde e Glória.

Outro dado alarmante é que o avanço da participação do transporte individual passou de 24%, em 1995, para para 27%, em 2011. Ou seja, as pessoas estão usando mais carros particulares.
A Firjan aponta que o perfil de quem usa carro é diferente daquele que prefere transporte público Um pode acordar mais tarde, já o outro tem que pular mais cedo da cama para não perder a hora do trabalho. E assim, o rush se estende das 6h até às 9h45 e das 16h às 19h45, ou seja, em um terço do dia, há engarrafamentos no Rio.

Você pode gostar