Enquanto as ruas das grandes cidades são tomadas por engarrafamentos, os trilhos são ainda mais lembrados como principal solução para os problemas de mobilidade urbana. Estudo da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que aponta os trens como solução para a mobilidade, mostra que malha ferroviária atual do país, de 29.817 quilômetros de extensão, pode dobrar até 2020 com a implementação de 30 projetos já iniciados ou em licitação. Além disso, o levantamento “Trens de passageiros – Uma necessidade que se impõe” mostra que 64 trechos de ferrovias já existentes, a maioria concentrada no Nordeste, poderiam, com pequenas modificações, ser usados para transporte de passageiros e contribuir para a melhoria da mobilidade urbana e regional no país.
A análise também aferiu a pré-viabilidade de se reformular 58 trechos de ferrovias para o transporte de cargas e pessoas. Dados do estudo mostram que, em 2012, o Brasil atingiu a marca de 2,6 bilhões de passageiros transportados em sistemas metroviários e ferroviários urbanos. Nas únicas linhas ferroviárias não urbanas existentes no país, 1,5 milhão de pessoas foram transportadas. São elas: Vitória-Belo Horizonte, Paraupeba(PA)-São Luís (Estrada de Ferro Carajás) e a Curitiba-Paranaguá.
Para o professor do Departamento de Transportes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Telmo Porto, uma das soluções também seria investir em ferrovias para o transporte de cargas, com a finalidade de custear o de passageiros em distâncias longas (a partir de 400 quilômetros). “Nenhum outro modal transporta tanta gente em tão pouco espaço. Os trilhos são insubstituíveis tanto para o transporte de carga quanto de passageiro e a estrutura de um poderia ser utilizada para a outra função. O plano de construir 10 mil quilômetros de ferrovias da ANTT é necessário, mas está em um ritmo menor do que o esperado”, opinou Porto.
O professor de Engenharia de Transportes José Guerra, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), lembra que é preciso investir na qualidade dos trens urbanos para que o modal retome seu papel. “Os trens precisam funcionar adequadamente, com qualidade, para que seja redesenhado o sistema de transporte em cidades em que vemos que o ônibus deixa de ser um alimentador complementar e compete com o sistema ferroviário”, explicou.
São Paulo é destaque nos investimentos em ferrovias
Dos 26 estados brasileiros, São Paulo é destaque entre as unidades federativas que têm ações para ampliar o papel dos trens na ligação regional, segundo especialistas. O mérito é por conta do trem expresso, previsto para ligar a capital a Sorocaba. Além desse projeto, cujas obras não foram iniciadas, há intenção de também ligar São Paulo e o ABC paulista à Baixada Santista. “As principais saídas da cidade estão congestionadas por conta de muito transporte de carga, que deveria ser feito por trens. Hoje, apenas 35% dos volumes transportados são feitos por ferrovias. O ideal é que se chegue a 45%, caso sejam implantados 10 mil quilômetros de trilhos”, ponderou o especialista Telmo Porto, da USP.
No Rio de Janeiro, o Governo do Estado anunciou, no fim de abril, que a região de Queimados, na Baixada Fluminense, contará com um Pólo Multimodal. Considerado o mais moderno do Brasil, o sistema irá ligar a região a Itaguaí, onde se concentra o porto, além de estar conectado ao Pólo Multimodal de Mogi das Cruzes (SP). A logística é para transportar cargas entre Rio de Janeiro e São Paulo e desafogar o fluxo de carretas nas estradas. Segundo estimativas, 50 viagens de trem equivalem a cerca de 100 mil caminhões.
Matéria publicada no jornal Brasil Econômico