Por marlos.mendes

Tendência moderna do planejamento urbano no mundo, o conceito de Desenvolvimento Orientado ao Transporte (TOD, na sigla em inglês) começa a ser incorporado no Brasil. No Rio de Janeiro, o projeto piloto já vem sendo traçado para a revitalização do bairro de Bonsucesso, na Zona Norte da cidade. A região será cortada por um novo corredor BRT, o Transbrasil, previsto para ser implementado até o fim de 2016.

A proposta está em análise nas Secretarias Municipais de Urbanismo, Transportes e Obras e foi elaborada pela ONG ITDP (Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento). O projeto prevê uma total transformação do bairro, dentro do conceito TOD, que privilegia um lugar mais amigável a pedestres, ciclistas e usuários do transporte público, além de promover o uso misto do solo, com empreendimentos comerciais, industriais e residenciais, e o adensamento demográfico, para evitar o espraiamento da cidade.

“Não dá mais para pensar transporte, moradia e emprego de forma dissociada. No conceito TOD, a gente nem considera aprovar um empreendimento fora de um raio de um quilômetro do transporte público”, explica Clarisse Linke, diretora do ITDP no Brasil.

Trecho da Avenida Brasil onde o estudo do ITDP sugere que seja instalada a estação Bonsucesso do BRT e a maquete de como ficará o localReprodução

Independentemente do local em estudo, o TOD se orienta por um conjunto de oito princípios: estímulo à caminhada; priorização do uso da bicicleta; criação de redes densas de vias; investimento maciço em transporte público; incentivo à diversificação do uso do solo, com empreendimentos comerciais, residenciais e industriais; aumento da densidade no entorno das estações, com consequente diminuição do tempo das viagens casa-trabalho-casa; e mudanças capazes de desestimular o uso do carro particular.

A diretora do ITDP ressalta que é preciso mudar o padrão de crescimento das cidades, baseado em locais residenciais afastados dos centros onde estão os polos de trabalho, como a Zona Oeste do Rio. “O Rio deu as costas por muito tempo para a Zona Norte, que é a área mais consolidada da cidade. As pessoas estão indo embora de Bonsucesso. Não dá para construir habitação social em algumas áreas da Zona Oeste, onde não há nem cidade, e deixar a Zona Norte se esvaziar. Aí, acontece a situação que as pessoas passam seis horas por dia dentro do ônibus.”

A executiva participou, na sexta-feira, do seminário Transporte e Planejamento para Cidades Melhores, promovido pela Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio (Fetranspor).

Plano Diretor de São Paulo é elogiado

O novo Plano Diretor da Cidade de São Paulo foi elogiado pelos especialistas que participaram do seminário Transporte e Planejamento Urbano para Cidades Melhores, no Rio de Janeiro. O pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) Renato Balbim ressaltou que os benefícios das novas normas paulistanas sobre o uso do solo, com incentivo ao transporte público, serão vistos daqui a alguns anos.

Balbim acrescenta que os princípios do conceito TOD devem estar nos planos diretores e de mobilidade de todas as cidades com mais de 20 mil habitantes. “Estamos em um momento histórico de ruptura com um modelo de desenvolvimento urbano, escolhido há 50 anos, e que privilegiou o pneu e deu nas cidades que temos”, afirmou.

Clarisse, do ITDP, acrescentou que está desenvolvendo instrumentos para que órgãos que financiem as habitações populares, como a Caixa Econômica, também utilizem critérios TOD para aprovar os projetos urbanos.

Matéria publicada no jornal Brasil Econômico

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