Por marlos.mendes

Dos R$ 50 bilhões prometidos pela presidente Dilma Rousseff no chamado Pacto da Mobilidade, após as manifestações de junho de 2013, R$ 29 bilhões já foram aprovados para projetos apresentados por estados e municípios ao Ministério das Cidades. Os dados foram apresentados pelo ministro Gilberto Magalhães no Seminário Nacional da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes) na semana passada, em Brasília. Entretanto, especialistas avaliam que o impacto desses empreendimentos ainda vai demorar a chegar à população das cidades brasileiras, que carecem de projetos de curto prazo para melhorar os transportes públicos.

Para especialistas que participaram do seminário, as administrações estaduais e municipais precisam também apresentar projetos de curto prazo, como as faixas de ônibus, para melhorar a situação atual dos transportes. “As propostas já foram aprovadas pelo Ministério das Cidades (que coordena a aplicação dos recursos do PAC da Mobilidade). Porém, vai demorar muito ainda para a população, que está ávida para ter transporte eficaz, ver os resultados. Era hora de se apostar em projetos que demandam menos tempo para serem implantados, como corredores de ônibus. A maioria do que temos só vai ser concluída em seis ou oito anos. Os projetos de metrô levam até 10 anos”, avalia o coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT), Nazareno Affonso.

Para o presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha, a demanda mais urgente da população é pela redução do tempo de viagem. Para isso, ele avalia que deveriam ser investido mais recursos em faixas exclusivas de ônibus. “Ainda não demos respostas às manifestações de junho do ano passado”, afirmou ele, lembrando que a NTU já encaminhou proposta ao Ministério das Cidades, desde o fim de 2013, para a qualificação das redes convencionais de ônibus. A ideia é a implantar 4 mil quilômetros de faixas exclusivas para coletivos em 46 municípios com população superior a 500 mil habitantes.

Nazareno elogiou o município de São Paulo, que construiu 330 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus, mas ressaltou que outros municípios precisam avançar mais no espaço segregado para o transporte público, que, segundo ele, tem um impacto mais imediato na mobilidade, do que grandes obras, como metrôs. No Rio, a rede de BRTs foi elogiada. O Transcarioca, inaugurado em junho levou apenas três anos para ser construído.

Municípios têm dificuldades de contrair mais créditos

Além dos R$ 50 bilhões anunciados no Pacto da Mobilidade, o ministro das Cidades, Gilberto Magalhães, diz que R$ 93 bilhões já tinham sido anunciados antes das manifestações, totalizando R$ 143 bilhões por meio dos Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “O governo já vinha investindo em mobilidade bem antes das manifestações. A Lei de Mobilidade é de 2012. Além dos investimentos, o governo deu isenção de impostos, de quase R$ 3 bilhões ao ano, para reduzir os custo dos transportes”, afirmou Magalhães.

O presidente da Frente Nacional de Prefeitos, José Fortunati, que também participou do seminário da NTU, concorda com os especialistas que o foco dos projetos de muitos municípios deveria ser em medidas mais simples e de curto prazo. Entretanto, ele lembra que muitos municípios não têm capacidade de se endividar mais para contrair os financiamentos do governo federal para mobilidade.

Nazareno Affonso, do MDT, avalia que os investimentos esbarram ainda na falta de qualidade dos projetos. “Parte dos recursos federais para mobilidade urbana deveria ser investida em capacitação do corpo técnico de estados e municípios para elaboração de projetos”, acrescentou.

Já o consultor do Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transportes e Meio Ambiente (Idelt), Frederico Bussinger, rebateu: “ Considero que o Brasil não sofre com falta de plano e sim com a concretização efetiva dos projetos”.

Matéria publicada no jornal Brasil Econômico

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