Rio - Nada de perder horas no engarrafamento. Os cariocas querem é pedalar. Nos primeiros três meses de funcionamento da plataforma da prefeitura em que a população pode mandar sugestões para melhorar a mobilidade no Rio, as bicicletas ganharam disparado. Novas rotas cicloviárias e estações de compartilhamento das magrelas representam 59% dos desejos populares, superando até mesmo as solicitações por melhorias no transporte coletivo.

Dos 1.205 pedidos registrados no site Mapeando, entre março e maio, 471 foram por novas rotas cicloviárias (39%) e 235, por postos do Bike Rio (20%), projeto de aluguel de bicicletas para uso compartilhado. Enquanto isso, indicações de medidas para facilitar o deslocamento a pé tiveram 17% da atenção dos cariocas, recomendações de novos pontos e terminais de ônibus, 14%, e restrições ao transporte individual motorizado, 11%.
Um morador do bairro Pechincha, na Zona Oeste, foi o mais participativo: deu nada menos que 74 palpites nesses três meses. “Pedi principalmente mais rotas cicloviárias para Jacarepaguá, Pechincha, Tanque e Freguesia. O sistema rodoviário já está saturado, sem contar que pedalar faz bem para a saúde, a mente, o trânsito e ainda deixa o ar mais limpo”, diz o engenheiro mecânico Alex Parada, 33 anos.
A região do Centro e adjacências, que tem a menor malha para ciclismo – com apenas 5,92 quilômetros dos atuais 380 quilômetros do Rio –, foi onde as bikes receberam o maior percentual (75,25%) entre as sugestões.
Ferramenta recebe sugestões
O Mapeando foi criado para que os cidadãos possam apontar demandas por serviços municipais. As sugestões registradas até o início de agosto serão consolidadas pelo Lab.Rio (Laboratório de Participação da Prefeitura), que gere a ferramenta, e enviadas à equipe que prepara o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS).
“A ideia é que a plataforma continue no ar permanentemente para consulta dos gestores públicos”, explica Bernardo Aibinder, coordenador do Mapeando. Com previsão de conclusão para outubro, o PMUS vai nortear os projetos de mobilidade na próxima década.
“A bicicleta é a única saída contra os engarrafamentos”, diz o estudante Igor Arcanjo, 26, que usa a bike diariamente, entre a casa, em Copacabana, e o trabalho, no Flamengo. Ele diz que leva de 20 a 30 minutos no trajeto e que a pedalada o deixa mais disposto para trabalhar.
Zona Oeste, campeã no uso de bike
BRT Transoeste, Estação Pingo P’Água, 16h de quinta-feira. Uma praça em frente tem bicicletários com 600 vagas. Todas lotadas. Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 55% do 1,5 milhão de deslocamentos diários sobre duas rodas são feitos na Zona Oeste. A região também é a que tem a maior rota cicloviária: 225,8 km.
A bicicleta é uma saída para os meios de locomoção precários na região, mas a infraestrutura insuficiente para chegar até o BRT e a falta de segurança nos bicicletários são problemas. O garçom Luiz André da Silva, 50 anos, se arrisca entre os carros. “Daqui para Pedra de Guaratiba, onde eu moro, não tem como pedalar fora de perigo. Faltam ciclovias ”, diz.
O carteiro Adilson da Silva, 31, também vai de bicicleta até a estação. “Além de a gente andar entre os carros, as bicicletas, mesmo com cadeados, são sempre roubadas, porque o bicicletário é aberto e não tem segurança”, queixa-se. O BRT informa que os bicicletários são feitos pela prefeitura fora das estações porque não há espaço dentro dos terminais.

Tijuca terá ligação cicloviária para o Centro até o fim do ano que vem
O subsecretário municipal de Meio Ambiente, Altamiran do Moraes, afirma que o Centro terá 50 quilômetros de ciclovias até o ano que vem. A meta da prefeitura é atingir o marco de 450 quilômetros de malha cicloviária na cidade em 2016. “A do Rio já é a maior da América Latina”, lembra.
A área do Porto vai ganhar 17 quilômetros de ciclovias entre a Praça Mauá e a rodoviária até a Olimpíada. Há outro projeto de mais 30 quilômetros no Centro, até o final de 2016, que depende do término das obras do VLT. Ele também prometeu uma ligação cicloviária entre Saens Peña e Tijuca à região central até o próximo ano. Sobre as dificuldades dos ciclistas para chegar ao Pingo D’Água, informou que a prefeitura faz estudos para concluir as ciclovias da Estrada das Pedras, e para colocar mais bicicletários no Transcarioca, que só tem lugar para deixar a bicicleta em 15 estações.
Três postos do Bike Rio serão instalados na Região Portuária após as obras do local. Há 257 estações na cidade, com 2.570 bicicletas, majoritariamente na Barra, Zona Sul e Centro.
Ramal da SuperVia recebe 58% dos usuários de bike
Segundo estudo do Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento (ITDP), a taxa de integração do Transcarioca com a bicicleta é baixíssima, de 0,1%. “Falta consciência de que a bicicleta potencializa o transporte público. Em Belo Horizonte, 150 quilômetros de vias cicloviárias alimentadoras foram financiados com os corredores de transporte. No Rio, isso não aconteceu”, analisa Danielle Hope, gerente de Transportes Ativos do ITDP.
Pesquisa da SuperVia mostra que a bicicleta é o principal meio de transporte utilizado pelos passageiros da Baixada e Zona Oeste para chegar às estações. O ramal Japeri lidera o ranking, representado por 58% de passageiros. Outra questão importante para o incentivo ao uso das bicicletas é o respeito aos ciclistas no trânsito, que devem circular nas margens das pistas, no sentido dos carros.
Ciente da importância da conscientização de motoristas, o Setrerj, sindicato de ônibus de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, capacitou 111 instrutores de 47 empresas sobre cuidados com os ciclistas.