Por adriano.araujo

Rio - Apontado como a solução para a regulamentação do sistema de vans na cidade, o Serviço de Transporte Público Urbano Local (STPL) ainda apresenta muitas falhas, principalmente de fiscalização. O DIA percorreu bairros da Zona Norte, flagrou bandalhas de motoristas e circulação de veículos irregulares. A prefeitura afirma que realiza operações com frequência, mas admite que os problemas também são derivados do envolvimento de grupos de marginais que lucram com o transporte irregular.

Em uma das principais vias de Madureira, na Estrada do Portela, é raro ver uma van dentro das normas. A circulação de kombis brancas, fazendo o mesmo itinerário de ônibus, e dos veículos de Transporte Especial Complementar (TEC), que passou a ser ilegal, é frequente. Vans do STPL de outras linhas transportavam passageiros na região normalmente.

Em Madureira%2C Kombis brancas fazem os mesmos itinerários de ônibus na Estrada do Portela%2C usando inclusive os números das linhas oficiais dos coletivos nos para-brisasAlexandre Vieira / Agência O Dia

Nos veículos, adaptações eram evidentes. No lugar do itinerário impresso nas laterais, os motoristas improvisaram faixa branca com o novo trajeto escrito por cima. Para orientar os clientes, também colocavam painel de LED no interior e, em alguns casos, placas com linhas de ônibus. Em apenas dez minutos no ponto da altura do Madureira Shopping, O DIA contabilizou 20 vans irregulares e 11 kombis de diversas linhas, como a 261 (Madureira-Marechal Hermes) e a 778 (Pavuna-Cascadura). “É uma briga diária dos motoristas de vans com os ônibus. Tem horas que o ponto fica tão lotado de kombi e van que os ônibus nem conseguem encostar”, apontou a passageira Fernanda Mota, de 45 anos.

Falsos despachantes

No bairro, a circulação dos veículos irregulares é comandada por dezenas de despachantes, que se dividem em dois pontos. Um na Estrada do Portela e outro na Avenida Ministro Edgard Romero. Com prancheta nas mãos, além de controlar os horários, eles também são responsáveis por atrair passageiros. “Até Rocha Miranda é R$ 2,50”, gritava um deles ao anunciar uma kombi de Cascadura até Honório Gurgel.

Em nota, a Coordenadoria Especial de Transporte Complementar afirma que sabe de motoristas que adulteram o layout do veículo e, quando são flagrados, recebem multas e os carros são rebocados. Neste ano, 286 veículos foram multados e 143 foram removidos em Madureira. Até agora, o órgão solicitou 367 cassações de licenças.

Pavuna tem terminal pirata de vans

A região da Pavuna foi contemplada com a implantação do STPL há duas semanas. Desde então, está proibida a circulação de kombis e vans no modelo TEC, mas na prática, essa realidade está bem longe. Na Praça Copérnico, ao lado do metrô da Pavuna, uma garagem serve para estacionamento de kombis que levam passageiros até o Parque Colúmbia, no mesmo bairro. Os clientes nem ficam no ponto de ônibus e já embarcam dentro do galpão. “Isso já existe há muito tempo. Depois das novas vans, continuam a fazer o transporte normalmente”, explicou um camelô , que preferiu não se identificar.

Na baia destinada às vans STPL, os veículos do TEC param tranquilamente para pegar passageiros. “Não podemos brigar porque sofremos retaliações”, declarou um motorista do STPL, que não quis se identificar.

Em nota, a Coordenadoria alegou que já tomou conhecimento das irregularidades e que acionou a Secretaria de Segurança para formar uma parceria. O órgão afirmou ainda que Pavuna tem um histórico frequente de envolvimento de marginais e que sofre assédios de olheiros que são pagos para burlar a fiscalização.

'Controladores' do sistema ilegal de vans atuam na PavunaAlexandre Vieira / Agência O Dia

?Rio das Pedras virou reduto de irregularidades

Com sistema de vans controlado pela milícia, Rio das Pedras, na Zona Oeste, é o reduto da ilegalidade. A penúltima vez que O DIA esteve no bairro, em abril, dezenas de veículos fora do STPL circulavam tranquilamente. Na semana passada, a equipe de reportagem voltou ao local e foi hostilizada por motoristas, que pediram para não serem mais fiscalizados.

Na Avenida Engenheiro Sousa Filho, a principal do bairro, haviam vans com autorização para realizar itinerários da Zona Norte transportando passageiros normalmente. Os veículos também estavam alterados com faixas pretas por cima do itinerário. A região é alvo de fiscalização frequente da Coordenadoria, segundo o próprio órgão. Neste ano, no Anil, Itanhangá e Jacarepaguá, por onde circulam as vans que partem de Rio das Pedras, a Prefeitura já multou 669 veículos irregulares, removeu 26 e lacrou 7.

A previsão é que em fevereiro todo o Rio já esteja com o STPL. Até agora, Zona Sul, Centro, Zona Norte (com exceção da Ilha do Governador) e grande parte da Zona Oeste já tiveram o sistema oficial implementado.

Em Rio das Pedras%2C motoristas de vans hostilizam equipe do DIAAlexandre Vieira / Agência O Dia

?Belo Horizonte afirma ter banido os 'perueiros'

?Outras capitais brasileiras optaram por proibir totalmente as vans, mas, mesmo assim, enfrentam irregularidades. Um exemplo é São Paulo, que desde 2003 tem dois subsistemas de transporte — o estrutural, com ônibus padrão, articulados e biarticulados, e o local, com micro e miniônibus fazendo a ligação entre os bairros e os terminais ou grandes corredores.

Apesar da proibição das vans, entre janeiro e julho deste ano, a Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo apreendeu 81 veículos realizando lotação. Em julho, foi lançado edital para nova licitação do sistema de transporte e não está prevista a circulação de vans.

Em Belo Horizonte, o serviço coletivo suplementar foi criado em 2001 e hoje conta com 25 linhas, transportando cerca de 1,5 milhão de pessoas por dia. Ônibus menores (e não vans) fazem a ligação entre bairros sem passar pelo centro, cumprindo horários e itinerários estabelecidos pela prefeitura.

A BHTrans afirma que Belo Horizonte é a única das grandes capitais brasileiras que conseguiu acabar com a ação de ‘perueiros’, desde julho de 2001. No entanto, jornais locais denunciam que os motoristas ilegais mudaram de tática e trocaram as vans por carros de passeio (que não são da Uber) para não serem flagrados. Pelo menos 78 veículos foram retirados de circulação este ano.

Porto Alegre opera o sistema de lotação com 437 micro-ônibus distribuídos em 29 linhas. São transportados 60 mil passageiros por dia. A Empresa Pública de Transporte e Circulação diz que a fiscalização está sempre nas ruas para coibir a clandestinidade, recolhendo veículos ilegais.

?Colaborou Gustavo Ribeiro

Você pode gostar