Rio - O fenômeno das drogas atinge todos nós. Não há exceção. Não é apenas nas ruas que a existência de grande número de viciados preocupa. Em todas as classes sociais, há quem seja dependente de drogas. Não somente das proibidas, como cocaína e ópio, mas também das que se podem adquirir em farmácias (com receitas falsas) ou em hospitais (por desvio).
Famílias de classes média e alta conhecem a tortura de ter um parente dependente químico. Por sua vez, o poder público, incomodado com a paisagem urbana das cracolândias, advoga a internação compulsória.
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Restam as perguntas que não querem calar, mas famílias e poder público insistem em abafar: o que induz uma pessoa a consumir drogas? Qual a solução para este problema?
Alerto meus amigos que têm filhos pequenos: deem a eles muita atenção e carinho. Internações podem ser úteis em situações de crise ou surto. Nunca como solução. Todo drogado grita em outra linguagem: “Eu quero ser amado!”
E o poder público, o que fazer diante desta epidemia química? Internação compulsória? Funciona provisoriamente. Em um país como o nosso, em que o sistema de saúde é tão precário, difícil acreditar que existam clínicas de internação em número suficiente para atender a todos os dependentes e que tenham suficiente pedagogia de recuperação.
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A solução talvez não seja fácil para aqueles que já romperam vínculos familiares. Contudo, há, sim, solução preventiva se o poder público cumprir seu dever de assegurar a todas as crianças e jovens educação de qualidade. Um jovem que sonha ser um profissional competente jamais entrará nas drogas se tiver educação garantida, sobretudo centrada em valores altruístas, solidários, espirituais.
Frei Betto é escritor, autor do romance sobre drogas ‘O Vencedor’ (Ática)