Por raphael.perucci

Não, não se trata de uma citação jocosa a uma celebrada marca de sabonete dos anos 50 e 60. O Valle a que me refiro aí no título é o Marcos Valle, que, aliás, vale não o que pesa (e pesa até muito pouco, magrinho que é), mas, sim, uma tonelada de talento.

Marcos está iniciando série de apresentações aqui e no exterior para celebrar seus 70 anos de idade e 50 de carreira. Celebrações que começaram — em termos mais solenes e circunspectos — no Teatro da Academia Brasileira de Letras, quando, ao lado da cantora e musa Patrícia Alvi, foi homenageado há dias no ‘MPB na ABL’.

Há que se aduzir que só num país tão descuidado com sua memória, esse tipo de saudação não é mais constante e eficaz. Conto às dezenas os nomes — apenas para me referir à minha paixão, a MPB — que são literalmente jogados embaixo do tapete do esquecimento. E do silêncio, tão constrangedor quanto indecente.

Mas fiquemos com Marcos Valle, que é da segunda geração da Bossa Nova. Compositor, músico, cantor e maestro, ele vem espraiando seu talento por 50 anos sem interrupção, fazendo uma obra em que refulgem joias como — apenas para citar umas poucas — ‘Viola enluarada’, ‘Samba de verão’, ‘Eu preciso aprender a ser só’ e ‘Mustang cor de sangue’.

Felizmente, para sorte dele e nossa, seus discos e suas canções são reconhecidos no mundo todo. Ou seja, mesmo que sobre ele tombasse o viés do esquecimento por aqui, a consagração não se esgotaria lá fora, onde seus discos e músicas são sempre solicitados, desde as discotecas de Londres e Nova York até as regravações de astros tão consagrados quanto (ainda nos anos 60 e 70) Sarah Vaughan ou Ella Fitzgerald.

Num resumo, Marcos e o irmão, Paulo Sérgio Valle (letrista de boa parte de sua obra), resumem página de honra de um dos mais belos conjuntos de canções elaboradas, a partir do Rio, para o mundo.

Ricardo Cravo Albin é presidente do Instituto Cultural Cravo Albin

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