Rio - E ainda rendem os confrontos no Leblon. A casa do governador, talvez o principal alvo dos ativistas cariocas no momento, atrai protestos e traz transtornos; o conflito de quarta-feira inquestionavelmente tirou a paz dos vizinhos de Cabral. A questão é que os embates violentos entre manifestantes e policiais e a livre ação de bandidos no quebra-quebra generalizado estão despertando reações majoritariamente de repúdio ao movimento. É perigoso. Alimenta-se um ‘coitadismo’ com cenas de lojas destruídas e saqueadas, com o choro do prejuízo e o assombro urgente e irremediável dos incomodados. Praticaram-se crimes no Leblon, e todos os envolvidos devem ser punidos; mas surge uma autovitimologia que nubla a visão para o que se passa adiante.
A ROCINHA, POR EXEMPLO, voltou a protestar ontem pelo sumiço de um de seus moradores. A família acusa a PM. Na denúncia, teriam tirado o sujeito de casa para a morte. A esposa roga para que ao menos possa enterrar o corpo. Mundos bastante diferentes, mas dentro da mesma cidade e sob a gestão do mesmo governo. O túnel, porém, parece fazer as vezes de muro intransponível que não separa bairros, mas divide dimensões. Na segregação, que tanto fez mal ao Rio, a dor do outro é menor. Mesmo quando o crime praticado contra aquele é muito mais grave.
ESTA SEMANA FORAM observados os 20 anos da Chacina da Candelária, triste tragédia social que, à época, passou por divisão semelhante. Houve quem aplaudisse a matança. O Rio não pode entrincheirar-se desse jeito. A cidade é gregária, ganhou com a pacificação e terá, na Jornada, oportunidade de se integrar ainda mais.