Por bferreira

Rio - Tenho estado neste mundo com a arte de viver da fé, só não sei fé em quê. Permaneço arraigado a fraternidade, amor ao próximo. Disto não abro mão, nunca. Não se chama Catolicismo ou Jesus Cristo, nem Vaticano nem Santa Ceia. Mas compreendo que para milhões este mesmo universo passa por aí. São traduções que assumem vários nomes. Desde criança, excluído de antemão de muitas religiões porque eu era um gay irredutível, tive que conduzir minhas proposições de forma solitária. Não quis negociar neste negócio que não me interessava em nada. Olho distante esta JMJ, mas que ali e aqui me encontro com ela (no desejo de um mundo mais fraterno).

A-do-rei quando Michel Temer (mais Ravengar que o próprio Ravengar), disse que todos, TODOS nós brasileiros, estávamos de portas abertas para o Papa. Deve ser por isso o crucifixo na parede de todos os órgãos públicos num país laico. NÃO. A porta do Temer, e muitas outras com certeza estão abertas, mas todas? Tem um grupão que não embarca neste entusiasmo.

Achamos bacaninha e pronto. Legalzinho ver quem tem esta vibe vibrar num evento de paz. Mas tem uma visão outra. Aliás, é tanto cabelo implantado nos políticos que transforma o take de cima pra baixo das câmeras de TV num rapto das cebolinhas”.

É. Então tá! Foi bacana! Não fundamentalista. Mas vocês sabem que eu sou dos pretos, dos índios, das putas da beira do cais, e desta perspectiva, sempre sobram perguntas. E foi um espetáculo pop superclasse média branca capitalista, e nada contra eles. São uma tribo e têm todo o direito de festejar suas propostas de supremacia e ação mundial. Festa do Vaticano, da velha e decadente Europa e sua visão centrada num umbigo hipócrita que já deu muito pano para manga. Cometeram atrocidades exemplares, inacreditáveis. Mas estão correndo atrás do prejuízo, porque a outra opção é eles serem atropelados neste pós-moderno, um mundo que muda e um mercado das crenças enorme. Quanto a expressão arrebanhar fiéis, tem coisa menos dialética? A fé pode não brotar espontânea, ela será arrancada.

Não fui, mas vi muita coisa pela TV. Tive dois calafrios nos testemunhos na missa de sábado à noite: o moço que dizia que tinha namorado uma bruxinha que praticava magia negra (como se hóstias e milagres não fossem magia “branca” — ah, a Inquisição queimando bruxas em 2013); e o missionário do centro-oeste dizendo que os índios xavantes são trabalhadores e catequizáveis, Ui!. E aplaudi em bis o Francisco: quando ele mandou os jovens lutarem para ser felizes e quando falou que muitos discursos católicos caducaram e vão ter que se adaptar ao mundo de hoje. Será que há luz no fim do túnel?

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