Rio - Já é possível afirmar que a enxurrada que varreu casas e ceifou a vida de uma menina em Campo Grande foi consequência de erro em obra. Falta apenas precisar em qual: se num conserto frágil da Cedae ou durante terraplenagem que equivocadamente pôs pesados caminhões sobre a adutora e sua monstruosa vazão. Tragédia que se soma a muitas outras causadas por trabalho porco, chaga da mão de obra brasileira, potencializada pela fiscalização débil.
A desgraça de Santa Maria, com as duas centenas de óbitos na Boate Kiss, jogou luz — tardia — sobre segurança predial. Mas no Rio colecionam-se problemas. Um deles recentíssimo: o controverso Campus Fidei, em Guaratiba, natimorta área concebida para receber o Papa e milhões de peregrinos que afundou na lama e na vergonha pública.
O DIA vem mostrando que a situação do terreno, um lodaçal mal adaptado e com erros de projeto, não era ignorada pelas autoridades — que agora, imbuídas pela santa presença de Francisco, propalam orgulhosas a graça de ali instalar bairro popular. De novo, vale ouvir os alertas sobre os perigos de se construir algo naquele mangue e os justos pedidos por mais infraestrutura.
A tsunami da Cedae equivale, obviamente em diferente proporção, àquela obra na cozinha feita por um curioso que nem checa por onde passam canos antes de sair quebrando paredes. Antes que se repita a cantilena da “fatalidade”, é preciso assegurar vigilância e qualificação em qualquer intervenção. Infelizmente, a falta de proatividade abre, de novo, brecha para dor e destruição — e a “comovida” reação dos governantes.