Rio - O governador Sérgio Cabral disse que a passagem do Papa Francisco pelo Brasil fez com que ele ficasse mais humilde. Vai ser divertido se o exemplo do jesuíta-franciscano se disseminar entre nossos políticos, mais afeitos, de um modo geral, ao luxo que costumava emanar do Vaticano. Nas viagens de fim de semana, nada de helicópteros, aviões ou lanchas. Veremos governador, senadores, deputados e juízes presos no engarrafamento da Ponte Rio-Niterói, animados com a feijoada, em Iguabinha, na casa de praia de um amigo de infância. Sim, os sofisticados encantos da Costa Verde — Angra, Mangaratiba — serão substituídos pelos ares agradáveis e mais populares da Região dos Lagos. Nos carros — particulares — de suas excelências se apertarão a patroa, as crianças, o filho do vizinho e a sogra. Ventiladores, repelente, TV de 14 polegadas, garrafão de Sangue de Boi, geladeira de isopor, um vira-lata e uns quatro travesseiros disputarão espaço na bagagem.
Nas férias, nada de Paris, Barcelona ou de jantar naquele restaurante exclusivíssimo na Dinamarca. Estação de águas em São Lourenço, praia em Guarapari e visita à tia em Aracaju voltarão ao cotidiano de nossas autoridades. No máximo, haverá a chance de uma esticada em Buenos Aires graças a um daqueles pacotes vendidos em dez prestações sem juros.
Contatos com grandes empresários serão menos frequentes. O jeito será promover churrasquinho na calçada com aquele ex-bilionário que, sempre antenado com os novos tempos, antecipou, com a derrocada de seu império, as dificuldades que viriam pela frente. Os jornais é que sairão perdendo com a mudança. Escândalos envolvendo políticos e empreiteiros serão substituídos por notícias mais prosaicas: um padeiro favorecido em licitação para fornecer brioches para algum palácio, o caso do empresário que deu uma bicicleta usada para o filho do prefeito de cidade do interior. Esposas do poder, saudosas de seus tempos de glória, farão fila nos sapateiros para pintar de vermelho-Louboutin as solas de seus escarpins.
Mas, com o tempo, nossos homens públicos se cansarão de tantas restrições, ficarão deprimidos, terão dificuldade até para governar. E, assim como quem não quer nada, encaminharão à Embraer pedido para a fabricação de aviões e helicópteros populares, de motor 1.0 — sem ar-condicionado, direção hidráulica ou vidros elétricos. Tudo bem básico.
Fernando Molica é jornalista e escritor | E-mail: fernando.molica@odia.com.br