Rio - Dia desses, rodei a cidade mendigando um assunto, um peregrino sem bandeiras, no mínimo trocar ideias, entre moedas de palavras. Algumas calçadas me lembravam Beatriz Segall, mas no fim do túnel uma luz, com certeza, eu veria. Na verdade, o céu totalmente azul, riscado em silêncio na rota da ponte aérea era o destaque do dia. Havia novidades ao redor.
No Campo de Santana, mesmo com um portão fechado por correntes, descobri a existência de buggys, carrinhos de golfe, conduzindo os passantes pelas vielas do parque. Admirado, reconheci nesse conforto uma curva de civilização.
Os camelôs em volta lembram os imigrantes ilegais da Europa: a mercadoria é exposta numa toalha aonde, estrategicamente, as quatro pontas estão amarradas feito um paraquedas pra voarem do chão na hora do rapa. O movimento é intenso. Central do Brasil.
Estou ali pra rezar na igreja de São Jorge, o enorme cavalo de pata erguida protegendo o santo com suas botas de prata.
A festa desse guerreiro é concorrida, todos sabem. Numas dessas datas especiais, tremi de emoção com a presença do gigante Jamelão. O intérprete da Mangueira, sentado ao lado do Clóvis, amigo e violonista, mantinha a face retraída, mesmo assim arrisquei uma aproximação.
Dois apertos de mão e um convite à dupla, claro, após as reverências religiosas, pra ouvir um samba no bar A Paulistinha, coisa de primeira.
Um milagre, e o nosso puxador aceitou a proposta. Liguei prevenindo da ilustre visita:
— Capricha nos tamborins!
O resumo foi sorumbático. Na pressa em satisfazer o recente convidado, contrataram às escuras um sambista argentino, cabelo de Mancuso, mostrando suas origens logo no primeiro verso:
— Explode corazón, na mejor felicidad...
São anônimas histórias mapeando o melhor do carioca, o convívio. O metrô, funcionando, me levou a Copacabana, Adega Pérola. Balcão reluzindo de acepipes, chega o Araújo, quinze anos na casa, ajeitando uma travessa de fígado de galinha. Escondi os números do meu ácido úrico, uma dezena pra lá de combinada, e fiz meu desjejum etílico.
As horas passam junto aos parágrafos do texto. A justificativa para as minhas biroscas: preciso escrever a crônica!