A Abba do chapéu aí de cima não é senão o grupo sueco Abba, que dominou as paradas de sucesso nas décadas de 70 e 80. E o chapéu, bem, o chapéu é um educador que investe em cultura, especificamente no teatro.
Este chapéu, um ‘sombrero’ de tão promissor, é conhecido no Rio por Carlos Alberto Serpa. Certamente que vocês, atentos a possíveis jogos de palavra, já deduziram: o sisudo professor Serpa está investindo em levantar memórias musicais de sua época. A começar pelo Abba, cujos hits agora viraram um musical no Clara Nunes. Dirigido pelo ator Tadeu Aguiar, Serpa assina o espetáculo, além de colocá-lo de pé com produção muito esmerada.
Nem vou me estender aqui em comentários mais alongados. Vale dizer, numa palavra, que fui e gostei. E de tudo, desde os jovens cantores até os figurinos muito criativos (e caprichosamente realizados) por Beth Serpa, mulher/musa do educador.
Estendo-me, sim, sobre o ‘beau geste’ de um empreendedor que não é do teatro, mas nele investe, nele mergulha com apetência e paixão. Aliás, Serpa não é bem um neófito no assunto, porque há anos faz espetáculos na Casa Julieta de Serpa, um casarão da Praia do Flamengo que tinha tudo para virar um espigão e foi preservado também por ele.
Do que me lembro, só um empresário, o Paulo Ferraz (dos estaleiros), investiu antes do Serpa em teatro, a ponto de receber o Troféu Estácio de Sá, lá pelo final dos anos 60, dado pelo Estado do Rio através do Museu da Imagem e do Som aos mais produtivos mecenas do ano.
A convergência do educador e do teatro está dando, ao que sei, outros frutos. A Cesgranrio — de que ele é presidente — está criando prêmios para as melhores peças do ano, além de escola e oficinas de teatro. Ou seja, este país, que parece insensato e devedor por parte do Estado, pode melhorar — e muito — com individualidades empreendedoras. E apaixonadas.
Ricardo Cravo Albin - Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin