Rio - Vivemos num mundo de imagens e com imagens. Precisamos delas para fazer a vida funcionar: da identidade à tela do computador ou do celular, as nossas ações e as formas de nos identificar são mediadas por fotos. Com as novas tecnologias, a imagem fotográfica deixou de ser apenas instrumento de informação ou de memória social e pessoal, para ser um espécie de lembrete visual até do prato de comida que nos agradou.
Essa popularidade da fotografia acaba valorizando um dos aspectos mais caros do Rio de Janeiro, a cidade mais fotografada do mundo depois de Paris até os anos 1950. Para isso contribuiu o fato de aqui ter sido realizada, diante do imperador, a primeira imagem fotográfica — um daguerreótipo — poucos meses após o anúncio oficial da sua invenção em Paris. O jovem Pedro II apaixonou-se pelo invento e se tornou o primeiro fotógrafo brasileiro e o primeiro monarca a criar o título de ‘fotógrafo da Casa Imperial’, com o qual incentivou a vinda de mestres estrangeiros que muito contribuíram para fazer da capital do Império um polo de excelência na fotografia.
Pedro II também constituiu uma das mais importantes coleções de fotografias do século 19, hoje na Biblioteca Nacional. No Rio se encontram, por sinal, as mais importantes coleções fotográficas públicas e privadas do país. Foi a partir daqui que se desenvolveram o fotoclubismo e o fotojornalismo, que popularizaram a fotografia como meio de expressão e de informação.
A força da fotografia na cidade pode ser bem percebida pelo números do FotoRio (Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro), que este ano reúne, desde maio, 122 exposições, projeções, palestras debates e oficinas em 64 locais, entre museus, galerias e espaços alternativos. Esse movimento de fotógrafos, que recebeu em 2013, pela primeira vez, apoio direto do poder público, sendo parcialmente patrocinado pela Secretaria Municipal de Cultura, apresentou nas suas cinco edições anteriores 734 eventos fotográficos com a participação de mais de mil fotógrafos brasileiros e estrangeiros.
A eloquência desses números mostra que o Rio vem recuperando a sua condição de principal polo fotográfico do país, além de ainda ser a sua cidade mais fotografada. Por tudo isso, merece políticas públicas que deem respaldo à vocação e mesmo um monumento, bem ali na Praça 15, onde foi feito o primeiro daguerreótipo ao sul do Equador, que celebre com orgulho o nascimento da fotografia neste lado do mundo.
Milton Guran é fotógrafo e coordenador-geral do FotoRio