Rio - É comum ouvir-se que os prazeres da vida só valem enquanto o homem é forte e capaz de desfrutá-la. Mentira; há prazeres que os moços jamais poderão sentir, porque certos prazeres são como mosaicos, cujas últimas peças só os velhos podem encaixar. Por exemplo, há quem tenha netos antes dos 40 anos, mas conversar com eles de homem para homem, só se consegue depois dos 60. E isso, inegavelmente, é um prazer e dos bons. Achar ridículo a vaidade é outro ponto. É claro que, por raciocínio, um homem aos 30 anos pode conseguir, mas o certo é que, geralmente, só depois dos 60 a experiência da vida mostra como é fútil e descabido esse hábito tolo, que tanta preocupação causa a muitos indivíduos. É verdade que há alguns com mais de 60 que ainda sim cultivam a vaidade, mas são exceções.
A sensação de realização é outro prazer que só os mais velhos podem ter. E esse, talvez, seja o maior dos prazeres, embora alguns velhos entendam que só a luta na conquista de melhor posicionamento na sociedade seja, de fato, a razão da vida útil. Que grande prazer não será, por exemplo, ver-se uma família inteira criada, os filhos encaminhados na vida, dando-nos, com isso, a prova cabal de que atingimos a meta como pais.
O indivíduo que se integra ao meio em que vive o faz por defesa, para facilitar a própria sobrevivência. Tornar-se gregário é um imperativo biológico. Só os marginais fogem a essa regra; por isso, sucumbem ou são segregados. Mas constituir uma família, conservar sua unidade e preparar seus descendentes para uma vida proveitosa na sociedade torna um homem realizado.
Ora, esse prazer, essa razão de viver, a natureza só proporciona aos velhos, de modo que, os frutos mais saborosos da árvore da vida, só os velhos conseguem provar.
Jornalista