Rio - À meia-noite, um agente da Lei Seca aborda o motorista agitado:
— Mas o senhor bebeu?
— Bebi! Cinco doses de uísque e 11 chopes pra lavar a serpentina. Ah, teve uma caipirinha de saquê na abrideira!
— Vamos ter que fazer o teste do bafômetro!
— Pera aí. Tu tá duvidando de mim?
A cena lhe custou 20 pontos na carteira, mas o pinguço não perdeu a ironia. Uma sinceridade comovente.
Lembrei do amigo que, não conseguindo disfarçar o cansaço, respondeu:
— Tô igual a uma vela. Todo destruído, mas em pé!
Às vezes, um simples chavão e a eternidade bate à sua porta. Um grande músico brasileiro, quando assistia à apresentação de um colega qualquer, deixava no ar a sua opinião sobre o evento. Pra não fugir da verdade, quando perguntado se havia gostado, virava os olhos e:
— Só você mesmo!
Ou:
— Nunca vi nada igual!
No flash de tais citações, se despedia em mão única, enquanto o artista da noite improvisava uma expressão de incerteza, o rumo daquela resposta.
Quis escrever essas notas avulsas pelo encanto do cotidiano.
O Sincero jura de pé junto que, de agora em diante, só bebe seis meses por ano:
— Dia sim, dia não. Palavra.
Pra aumentar a risada, fala alto, no salão:
— Vou procurar o Moderação, meu vizinho de porta. Minha mulher pediu, eu também prometi: — Relaxa, que estou bebendo com o Moderação. Promessa é dívida.
Camisa aberta até o último botão, finge acender o cigarro pelo filtro. O isqueiro está igualmente invertido, um velho número feito um circo sem leão, um palhaço que chora, o globo da morte de bicicletas.
Acatando normas supremas, embargos infringentes, meu amigo Junior Rodrigues, compositor manauara, tirou a máscara dos panos quentes e, diante de insistente apelo, foi sincero:
— Sim! Precisando de mim, procura outro! Conte comigo que é o mesmo que nada!
Filosofias de botequim. Um Nietzsche do Alemão, complexo de teleférico passeando entre coloquiais, o enredo do dia a dia.
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