Rio - Tudo o que eu sei dela se resume nisto que vou escrever agora: ela é uma mulher do bairro da Piedade, no Rio de Janeiro, tem uma filha de 12 anos e é valente. Enfrenta o inimigo com coragem. É uma mulher brasileira. Não dá mole. A atitude é pra hoje. A mãe, esta mulher, constatou que a filha era assediada por um destes monstros que existem soltos por aí. Não teve dúvida. Se fez passar pela filha, falseou a voz, marcou encontro com o tarado e, mesmo sem a ajuda dos policiais pouco comprometidos com a sociedade que deveriam defender, agiu. Antes, foi a duas delegacias, não conseguiu ajuda. Mesmo assim, pegou o bandido. Meus respeitos, minha senhora.
A violência contra a criança ou o adolescente é um grande problema no nosso país. Nem sempre as histórias acabam bem. Ou de maneira justa. Nem sempre existe uma mãe da Piedade para impedir o pior. E não são só as questões sexuais as únicas situações de perigo para crianças e jovens. O espancamento, a violência física também concorrem para a vida difícil e traumatizante destas crianças. A PUC do Rio Grande do Sul estudou a questão da violência contra a criança no Rio e constatou que 68% das crianças que vivem em comunidades são surradas. As mais espancadas são as crianças na faixa de 2 anos de idade, que têm mobilidade (andam de um lado pro outro) e não entendem ainda os limites do proibido, as chamadas regras sociais, o pode–não pode do cotidiano.
A Justiça brasileira registra dezenas de casos de violência e maus tratos contra as crianças, praticados por pessoas da família, quase sempre o pai ou a mãe. Até hoje, apesar de ser absurdo, o chamado bater para educar permanece sendo um jeito de criar filhos, uma maneira de “torcer o pepino”, como se dizia antigamente. E encontra mais eco em famílias sem informação ou sem noção do principio fundamental que reza que “violência gera violência”. Mas não são as únicas. Boa parte da nossa sociedade ainda acha que bater em criança é “normal”, que faz parte da nossa cultura. No Morro da Formiga, no Rio, uma ONG chamada Icos, liderada por um inglês, faz um trabalho de formiguinha para explicar aos pais e responsáveis que bater, espancar, maltratar a criança que desobedece não é uma forma aceitável de disciplina.
Eles usam a expressão “gentileza gera gentileza” para aplacar a ira e frustração dos pais, para despertar o afeto e para tentar impedir a violação dos direitos da criança. Assim, a cidadania tem avançado por lá. Ainda falta muito, mas, isolado ou coletivo, o trabalho começou. Torço para que avance. Em nome das crianças e de uma infância mais feliz.
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